Epicondilites e Musculação

As dores na articulação dos cotovelos podem ter diversas causas, sendo a mais comum a epicondilite, que se caracteriza por uma inflamação no periósteo, tecido que reveste o osso, no local de inserção dos músculos ou tendões. Os tendões quando sofrem sobrecargas excessivas tracionam o periósteo e o resultado é um processo inflamatório tanto dos tendões como do tecido ósseo, que se mal curado, pode se tornar crônico. O mais importante fator predisponente das epicondilites são os processos degenerativos que fragilizam as inserções musculares e tendões.

As epicondilites podem ser laterais, quando acometem os tendões dos músculos extensores dos punhos e flexor do cotovelo, músculo braquioradial, ou mediais quando acometem os flexores dos punhos, e podem limitar as atividades mais simples da vida diária, como pegar um copo ou a prática de atividades físicas.

As causas mais comuns são os esforços repetitivos pela prática esportiva ou por atividades de vida diária, como o uso excessivo de computadores e celulares. Nas tendinopatias, ou seja, quando ocorre comprometimento anatômico do tendão, por degeneração, rupturas totais ou parcias e processos de fibrose, decorrentes de esforços ou pelo próprio processo de envelhecimento, os tendões podem tornar-se mais suscetíveis à processos inflamatórios e lesões. A tendinopatia também depende de constituição génetica de cada pessoa e associada ao enfraquecimento muscular tende a agravar a sua evolução.

O fortalecimento muscular tem se mostrado uma intervenção terapêutica eficiente no tratamento e melhora da dor, se mostrando superior aos tratamentos convencionais, como fisioterapia analgésica e medicação. O uso contínuo de corticóides e antiinflamatórios tendem a prejudicar a constituição física dos tendões (Camargo et al., 2014).

Exercícios resistidos, conhecidos como musculação, são eficientes para melhorar a força de músculos e tendões e seguros para pessoas com limitações musculoesqueleticas, porque a sobrecargas pode ser controladas (posição, exercícios, series, amplitudes, cargas e esforço) (Santarem, J.M., 2012).

Os exercícios básicos da musculação, como supino ou press peitoral e a remada, devem fazer parte inicialmente do programa de treino e não devem ser substituídos posteriormente. A extensão total dos cotovelos durante os exercícios deve ser evitada, principalmente nos exercícios de empurrar (supino ou press peitoral), situação onde ocorre maior sobrecarga excêntrica nos músculos flexores dos cotovelos.

Na barra ou manopla do equipamento, é importante realizar a pegada falsa, posicionando o polegar para cima, ajudando assim a diminuir a força de preensão, que costuma agravar a dor na região. Nas remadas o uso de straps pode ajudar a diminuir a sobrecarga nos cotovelos durante o exercício, mas com atenção para possíveis problemas na articulação do punho porque os straps tracionam essa articulação. As cargas devem ser evoluídas gradativamente, acompanhando a melhora dos sintomas.

Exercícios que podem complementar o programa de treino são as roscas e exercícios específicos para o antebraço. A rosca lateral, exercício clássico para o bíceps, pode ter efeitos terapêuticos para a articulação do cotovelo, mas com cargas inicialmente leves e amplitudes tateando o conforto. Exercícios que provocam ou pioram a dor, mesmo com adaptações, não devem ser insistidos.

Outros exercícios importantes são as extensões e flexões de punho, que podem ser realizados com halter; as cargas e amplitudes seguem as mesmas observações da rosca lateral. Em relação a velocidade dos movimentos a fase excêntrica deve ser enfatizada, mesmo nas pequenas amplitudes; a associação da execução da fase excêntrica lenta com a melhora dos processos inflamatórios tem sido documentada em estudos científicos (Camargo et al., 2014; Stasinopoulos e Stasinopoulos, 2017). Por essa razão as isometrias podem ser tentadas, mas quando não há sucesso nas isotonias.

Praticantes avançados de musculação com processo novo de epicondilite precisam ter o treino reavaliado, especialmente no seu volume ( quantidade de exercícios e número de repetições) além dos cuidados citados acima. As repetições podem ser diminuídas para amenizar a sobrecarga pela repetição nas articulações dolorosas e fragilizadas, podendo ser trabalhadas entre 6 e 10. Frequentemente vemos na musculação uma quantidade exagerada de exercícios nos programas de treino, dificultando o processo de recuperação ou podendo agravar as dores nas situações de epicondilites.

Em relação a frequência semanal, é importante lembrar que os tendões também precisam de um período mínimo de 48 horas para recuperação, assim como os músculos (ref). Outro fator a ser considerado é que além da execução dos próprios exercícios, o colocar e tirar peso dos próprios equipamentos também podem sobrecarregar os cotovelos, às vezes sendo recomendado treinar em dias alternados, evitando dias seguidos, mesmo com divisão de treino.

A piora no quadro de dor durante ou pós exercícios deve ser avaliada e acompanhada por um médico. O processo de cicatrização das epicondilites costuma ser longo, às vezes com período de 6 meses ou mais na melhora no quadro, exigindo conhecimento do profissional da musculação e paciência por parte do aluno no programa de treino. Profissionais especialistas em treinamento resistido e doenças são os mais recomendados no acompanhamento de casos de epicondilites na musculação.

* Sandra Nunes de Jesus é formada em Educação Física e Pedagogia; especialista em fisiologia do treinamento resistido na saúde, na doença e no envelhecimento pela Faculdade de Medicina da USP e é coordenadora técnica do Instituto Biodelta.

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