Inicialmente os autores situam a hipertensão arterial sistêmica (HAS) como um dos grandes problemas de saúde pública, responsável por milhões de mortes anuais em todo o mundo. Os seus principais desfechos cardiovasculares são o acidente vascular encefálico e o infarto agudo do miocárdio. Uma das grandes dificuldades para o controle da HAS, principalmente nos países em desenvolvimento, é a exiguidade de sintomas identificáveis pelas pessoas. Isso leva ao subdiagnóstico e à negligência no tratamento.
Os autores também comentam que o tratamento farmacológico é eficiente, embora muitas vezes de alto custo, e que as sociedades internacionais recomendam um programa de exercícios como parte da abordagem terapêutica.
Tradicionalmente os exercícios aeróbicos têm sido recomendados como auxiliar no tratamento da HAS. O treinamento resistido (TR) também é atualmente aceito, mas não isoladamente, na maioria dos posicionamentos de sociedades. Os autores fazem referência a evidências de que o TR pode reduzir a resistência periférica e melhorar a função endotelial, e que as revisões de literatura por metanálise disponíveis não consideraram os efeitos do TR isolado na pressão arterial de pessoas hipertensas e pré-hipertensas, sendo este o objetivo do presente trabalho.
Os critérios estabelecidos para revisões sistemáticas e metanálise foram seguidos e foram selecionados nas principais bases de dados trabalhos experimentais, controlados e randomizados publicados em inglês, que estudaram os efeitos do TR acima de 8 semanas sem outros tipos de exercícios associados sobre a pressão arterial sistólica e diastólica de pessoas hipertensas e pré-hipertensas. Dos 1.608 trabalhos selecionados apenas cinco foram admitidos na metanálise em função dos critérios de exclusão adotados e informados no texto original.
Nos trabalhos selecionados 80% dos participantes tinham acima de 60 anos e a média do período de estudo foi de 12 semanas. O treinamento ocorreu três vezes por semana e em um dos cinco trabalhos a resistência utilizada foi dada por elásticos. Nos trabalhos que utilizaram pesos o número de exercícios por sessão variou de 7 a 10, a maioria das repetições ficou entre 8 e 12 e as cargas chegaram a 80% de 1RM. A redução estatisticamente significante observada foi em torno de 8,2 mm Hg para a pressão sistólica e de 4,1 mm Hg para a pressão diastólica.
Na discussão os autores enfatizam que esta é a primeira metanálise com as características citadas. Também citam outras revisões em que o TR foi identificado como eficiente em reduzir significativamente a pressão arterial e outros fatores de risco cardiovascular como a gordura corporal e os triglicerídeos sanguíneos. Todavia, nessas outras revisões os participantes não eram todos diagnosticados como hipertensos ou pré-hipertensos e não foram estudados apenas os efeitos crônicos.
As recomendações para exercícios aeróbicos no tratamento da HAS propõem de 30 a 60 minutos de treinamento, 4 a sete dias por semana. O TR utilizado nos trabalhos selecionados nesta revisão foi realizado apenas três vezes por semana, o que deve contribuir para uma melhor adesão ao tratamento. Além disso, o TR produz importantes efeitos não produzidos pelos exercícios aeróbicos como a melhora da coordenação e da proteção das articulações em função do fortalecimento muscular.
Os autores esclarecem que diversos mecanismos fisiológicos podem estar envolvidos na redução da pressão arterial de repouso induzida pelo TR, mas ainda não existe clareza neste tema.
Outro aspecto é que o TR é reconhecidamente mais seguro para pessoas com coronariopatias e miocardiopatias, comparativamente aos exercícios aeróbicos.
O presente trabalho, realizado por pesquisadores brasileiros, contribui muito para aprimorar os posicionamentos das associações profissionais internacionais com relação aos exercícios físicos no tratamento da HAS. O que se espera é que o TR isolado seja reconhecido como eficaz e conveniente para essa finalidade.
Metodologia, tabelas, gráficos e bibliografia encontram-se no artigo original.
Você também pode gostar
RELAÇÕES DE DOSE-RESPOSTA DO TREINAMENTO RESISTIDO EM ADULTOS IDOSOS SAUDÁVEIS: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA E META-ANÁLISE.
Uma análise eletromiográfica das variações de elevações laterais e elevação frontal em fisiculturistas competitivos.
O exercício aeróbico altera as respostas moleculares do músculo esquelético ao exercício de resistência.