Tiril Tøien1*; Jakob Lindberg Nielsen2*; Ole Kristian Berg1; Mathias Forsberg Brobakken1,3; Stian Kwak Nyberg4; Lars Espedal1; Thomas Malmo5; Ulrik Frandsen2; Per Aagaard2; Eivind Wang1,3
- Department of Health and Social Sciences, Molde University College, Norway
- Department of Sports Science and Clinical Biomechanics, Research Unit for Muscle Physiology and Biomechanics, University of Southern Denmark, Odense, Denmark
- Department of Psychosis and Rehabilitation, Psychiatry Clinic, St. Olavs University Hospital, Trondheim, Norway
- Department of Anesthesiology and Intensive Care, Drammen Hospital, Vestre Viken Hospital Trust, Drammen, Norway
- Norwegian Defence University College, Norwegian Armed Forces, Oslo, Norway
J Appl Physiol 135: 1360–1371, 2023. Qualis A2 Fator de Impacto 3.3
First published October 26, 2023; doi:10.1152/japplphysiol.00208.2023
Comentários: Prof Dr Milton Rocha de Moraes*
NOVO E NOTÁVEL
O envelhecimento está associado à perda de fibras musculares de contração rápida do tipo II, à remodelação das unidades motoras e ao agrupamento de fibras musculares. Este estudo revela, pela primeira vez, que o treinamento resistido com pesos é capaz de preserva a inervação neural das fibras do tipo II, resultando em uma distribuição e agrupamento de tipos de fibras musculares semelhantes em Atletas Masters treinados com exercícios resistidos ao longo da vida, em comparação com adultos jovens moderadamente ativos. Em contraste, os Atletas Masters treinados, predominantemente, com exercícios aeróbios (endurance) ao longo da vida e pessoas idosas ativas recreacionais, demonstraram uma maior proporção de fibras do tipo I acompanhada por um agrupamento mais acentuado de fibras do tipo I e mais fibras atróficas em comparação com os Atletas Masters que praticaram o treinamento resistido com pesos ao longa da vida e os indivíduos jovens ativos. Portanto, o treinamento resistido deve ser utilizado como uma modalidade terapêutica de treinamento físico para preservação da musculatura de contração rápida, força muscular máxima e capacidade de força rápida com o avanço da idade.
O envelhecimento é um processo natural que está tipicamente associado à diminuição da massa muscular, gerando reduções na força muscular e na taxa de desenvolvimento da força, muitas vezes explicada pelo remodelamento das unidades motoras devido à denervação, onde o músculo perde a inervação devido à lesão ou outro distúrbio fisiológico/patológico/traumático, e à subsequente perda de fibras musculares de contração rápida do tipo II, fibras com características predominantes de força muscular. Nesse contexto, o exercício físico é frequentemente defendido como uma estratégia terapêutica eficaz para combater essa perda prejudicial. No entanto, permanece incerto como o treinamento resistido com pesos em comparação com o treinamento aeróbio ao longo da vida, pode afetar de maneira diferente os marcadores de denervação e reinervação das fibras musculares, além de influenciar a proporção e a morfologia da musculatura de contração rápida.
Um recente estudo conduzido pela Dra. Tiril Tøien do Departamento de Saúde e Ciências Sociais, “Molde University College”-Noruega, comparou a distribuição dos tipos de fibras musculares, o agrupamento de fibras e a prevalência de fibras atróficas, ou seja, com valores menores que 1494 μm², em atletas masters treinados com pesos contra atletas masters competidores em provas de longa duração (≥ 3.000 m). Vale ressaltar, que a geração de fibras atróficas ocorre em um processo “biomorfisiológico”, devido a uma diminuição das vias de síntese e/ou aumento das vias de degradação de proteínas. Todavia, uma vez que o tamanho da fibra é afetado, a pessoa idosa perde massa muscular e força e, consequentemente, capacidade funcional.
Pesquisas recentes e diretrizes internacionais discutem a “resistência anabólica”, que é quando os músculos não respondem tão bem a estímulos que normalmente os fariam crescer e ficar mais fortes. Isso pode contribuir para a perda de força e massa muscular em casos como desuso, processo de envelhecimento sedentário e algumas doenças. Para combater essa perda de força e massa muscular, várias estratégias são usadas: exercício físico, suplementos nutricionais, estimulação elétrica, entre outros. Por medir a síntese de proteína muscular em humanos por meio de biópsia muscular, estudos mostram que o treinamento resistido com pesos (como a musculação) é especialmente eficaz para aumentar a força e massa muscular, sobretudo de pessoas idosas.
Os resultados do estudo deste comentário foram comparados com idosos ativos, que faziam atividades recreativas (todos com mais de 70 anos) e com um grupo de referência formado por jovens ativos (com menos de 30 anos). Foram recrutados 10 atletas masters especializados em treinamento resistido, com idade média de 73 anos, entre eles estavam levantadores de olímpicos, fisiculturistas e basistas. Por outro lado, também foram recrutados 8 atletas masters de provas de longa duração, com idade média de 72 anos, participantes de corridas de rua e pista ≥ 3.000 metros. Foi realizada biopsia muscular do quadríceps (vasto lateral), juntamente com medidas de força máxima de “Leg press” (1RM) e cálculos da taxa de desenvolvimento de força.
Os achados revelaram que os idosos-atletas masters, que eram treinados em força (musculação) ao longo da vida, demonstraram uma distribuição de fibras do tipo II, agrupamento de fibras, força máxima (1RM) e taxa de desenvolvimento de força comparáveis aos jovens-ativos, que tinham idade média de 30 anos, além da ausência de fibras atróficas. Em contraste, os idosos-atletas masters treinados em provas longas (≥3.ooo metros) e os idosos-ativos recreacionais, exibiram mais fibras atróficas, mais fibras agrupadas, uma menor proporção de fibras do tipo II, menor força e massa muscular, do que os atletas masters treinados em modalidades com predominância de exercícios resistidos com pesos.
Por fim, esses resultados indicam que o treinamento resistido com pesos pode, de fato, preservar as fibras do tipo II, a força e a massa muscular com o avanço da idade em homens, como provavelmente resultado do uso crônico de alta geração de força contrátil gerada pelo treinamento resistido com pesos. A preservação da “biomorfisiologia” muscular sugere uma vantagem significativa do treinamento resistido sobre o treinamento predominantemente aeróbio na manutenção da saúde, integridade muscular e da capacidade funcional na pessoa idosa.
* Prof Dr Milton Rocha de Moraes
Mentor do Grupo de Estudos em Treinamento de Força na Saúde & Reabilitação
Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação Física
Universidade Católica de Brasília
E-mail: milton.moraes@p.ucb.br
Instagram:@miltonrochademoraes
CV: http://lattes.cnpq.br/1690322593621016
Metodologia, tabelas, gráficos e bibliografia encontram-se no artigo original.