80 O que há de novo no pronunciamento do Colégio Americano de Medicina Esportiva sobre exercícios e hipertensão?

O que há de novo no pronunciamento do Colégio Americano de Medicina Esportiva sobre exercícios e hipertensão?

“What’s New in the ACSM Pronouncement on Exercise and Hypertension?”

Autora: Linda Pescatello, PhD.

A Dra. Linda Pescatello, é professora ilustre de Cinesiologia na Universidade de Connecticut nos Estados Unidos. Ela é autora-chefe da última Diretriz do Colégio Americano de Medicina Esportiva sobre o tema: “Exercício e Hipertensão” (Pescatello et al., 2004).

 

A HIPERTENSÃO ARTERIAL É UM PROBLEMA GENERALIZADO DE SAÚDE PÚBLICA

O Colégio Americano de Cardiologia (CAC) e a Associação Americana de Cardiologia (AAC) recentemente redefiniu o diagnóstico de Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) para um limiar mais baixo de pressão arterial (PA) de 130 mmHg para a PA sistólica (PAS) e/ou 80 mmHg para a PA diastólica (PAD) (Whelton et al., 2017) em comparação com o limiar da “Joint National Commission 7” de 140 mmHg para a PAS e/ou 90 mmHg para a PAD (Chobanian et al., 2003). Vale ressaltar, que no Brasil os valores determinados para HAS pela Sociedade Brasileira de Cardiologia permanecem nas cifras de maior ou igual a 14/9 (140 por 90 mmHg) (Barroso et al., 2021).

Atualmente, quase metade dos adultos nos Estados Unidos tem HAS. A autora destaca que recentes diretrizes da CAC/AAC afirmam que quase todas as pessoas recém-diagnosticadas com HAS, com valores mais baixos de PA, que não ultrapassem 159 mmHg de PAS e 99 mmHg PAD, podem tratar a hipertensão com mudanças no estilo de vida, como por exemplo o exercício físico e a dieta,  em vez de medicamentos. De fato, a participação regular em exercícios físicos foi classificada nas diretrizes da CAC/AAC como uma das melhores abordagens não farmacológicas para prevenir e tratar a HAS (Whelton  et al., 2017). Dessa forma, no passado o Colégio Americano de Medicina do Esporte (ACSM) (Pescatello et al., 2004; ACSM, 2018), bem como organizações profissionais em todo o mundo (Pescatello, 2018), enfatizavam a participação em exercícios aeróbios de intensidade moderada, complementados por exercícios resistidos com peso na maioria dos dias da semana para prevenir e tratar a HAS.

OS FUNDAMENTOS DO NOVO PRONUNCIAMENTO DO COLÉGIO AMERICANO DE MEDICINA DO ESPORTE SOBRE EXERCÍCIO E HIPERTENSÃO

A autora relata que em junho de 2018, o Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos convocou o Comitê Consultivo de Diretrizes de Atividade Física, de acordo com a Lei Norte-Americana do Comitê Consultivo Federal de 1972. O encargo dado ao Comitê foi revisar, avaliar e resumir de forma independente as evidências cinetíficas atuais que ligam a atividade física à saúde e à função humana, aderindo às melhores práticas de revisões sistemáticas e meta-análises, e fornecer essas informações em um Relatório Científico (Physical Activity Guidelines Advisory Committee, 2018) que serviu de base para o documento de política, “Diretrizes de Atividade Física para Americanos”, do inglês: “Physical Activity Guidelines for Americans”, 2ª edição (US Department of Health and Human Services, 2018), lançado em novembro de 2018. A HAS foi escolhida como uma condição de saúde a ser abordado no Relatório Científico do Comitê Consultivo de Diretrizes de Atividade Física de 2018 devido à sua importância como problema de saúde pública e à volumosa expansão da literatura sobre o tema Exercício Físico e HAS desde do Relatório anterior de 2008 (Physical Activity Guidelines Advisory Committee, 2008). Segundo a autora, o novo Pronunciamento do “ACSM” sobre Exercício Físico e HAS contém as partes importantes das seções do Relatório Científico do Comitê Consultivo de Diretrizes de Atividade Física de 2018 sobre o uso do exercício físico para prevenir e tratar a HAS (Pescatello et al., 2019). A postagem na internet pela ilustre Dra. Pescatello destaca o que há de novo no Pronunciamento sobre Exercício Físico e HAS (Pescatello et al., 2019), que apresenta outras informações, novas e relevantes do Relatório Científico do Comitê Consultivo de Diretrizes de Atividade Física de 2018 sobre a prescrição de exercícios físicos como adjuvantes no controle, manutenção e tratamento da HAS (Physical Activity Guidelines Advisory Committee, 2018) e conclui com as novas recomendações do “ACSM” sobre as valências: Frequência, Intensidade, Tempo e Tipo, ou simplesmente a sigla “FITT” para cada tipo de exercício, aeróbio ou de força.

O QUE HÁ DE NOVO EM RELAÇÃO AOS EXERCÍCIOS E A HIPERTENSÃO?

A primeira consideração descrita pela autora é sobre a participação regular em atividades físicas de lazer para atenuar o desenvolvimento de HAS em adultos com PA normal de forma dose-resposta, ou seja, quanto maior a participação nestas atividades, maior os benefícios. Para cada 10 metabólico equivalente gastos (MET; nota do tradutor 1 MET = 3,5 mL/kg/min) horas por semana de incremento na atividade física de lazer, o risco de desenvolver HAS cai em 6% (Liu  et al., 2017). A autora destaca que não havia evidências suficientes no Relatório Científico do Comitê Consultivo de Diretrizes de Atividade Física de 2018 para determinar se essa relação dose-resposta existente entre adultos com pré-hipertensão.

O segundo ponto, muito importante, é que o exercício físico reduz a PA entre adultos com PA normal, pré-hipertensão e hipertensão. As reduções da PA resultantes do exercício dependem da PA de repouso, ou seja, a PA com a qual começamos a fazer o exercício. Em média, os adultos com HAS apresentam as maiores reduções de PA de 5 a 8 mmHg (4% a  6%  do nível de PA em repouso), seguidos por adultos com pré-hipertensão de dois a quatro mmHg (2% a 4% do nível de PA em repouso) e PA normal de um a dois mmHg (1% a 2% do nível de PA em repouso). A boa notícia é que as maiores melhorias na redução dos níveis pressóricos após o exercício físico são observadas nas pessoas com a PA de repouso mais alta.

A terceira e última consideração é que entre os adultos com HAS, o exercício reduz o risco de: i) progressão de doenças cardiovasculares, conforme evidenciado pelas reduções da PA resultantes do exercício; e ii) reduz a mortalidade por doenças cardiovasculares de forma dose-resposta. A autora apresenta um dado de Hu e colaboradores (2007) que descobriram um risco de mortalidade por doenças cardiovasculares de 25% menor entre adultos altamente ativos fisicamente do que naqueles fisicamente inativos (sedentários).

 

 

AS NOVAS RECOMENDAÇÕES DE “FITT” DO COLÉGIO AMERICANO DE MEDICINA ESPORTIVA PARA PACIENTES COM HIPERTENSÃO ARTERIAL

Com base nas conclusões do Relatório Científico Comitê Consultivo de Diretrizes de Atividade Física de 2018 e neste Pronunciamento do ACSM (Pescatello et al., 2019), as novas recomendações de “FITT” do Colégio Americano de Medicina Esportiva para hipertensão são reveladas na Tabela do artigo. Vale destacar, que a ênfase não é mais colocada apenas no exercício aeróbio (Evidência A), como relatado na diretrizes de 2004 (Pescatello et al., 2004). Recomenda-se a prática de exercícios aeróbios ou simplesmente exercícios resistidos com pesos isoladamente ou a combinação de ambos (força+aeróbio) na maioria dos dias da semana, de preferência em todos os dias, totalizando 90 a 150 minutos por semana para os exercícios aeróbios e os exercícios resistidos com pesos de 2 a 3 vezes por semana com intensidade de 60% a 80% de 1RM, com ênfase na carga moderada (nota do tradutor; sempre com supervisão de um profissional de educação física ou fisioterapia, com medidas de PA antes, durante e imediatamente pós-exercício). A expansão das recomendações do Colégio Americano de Medicina Esportiva em relação a “FITT” é para incluir exercícios multimodais que ofereça uma variedade e opções de exercícios mais atraentes que podem se traduzir em melhor adesão ao exercício para adultos com HAS.

Contudo, podemos observar que o presente relato de uma das maiores pesquisadoras do mundo sobre o assunto Exercício e Hipertensão Arterial, concluiu que a prática de Treinamento Resistido como forma primária, agora pode ser recomendada isoladamente (em 2004 era considerado secundário-Evidência B), com os benefícios superiores aos exercícios aeróbios ou combinados na redução dos níveis pressóricos (vide Figura do artigo original), sobretudo dos pacientes hipertensos. Uma observação do tradutor, pesquisador na área de Treinamento Resistido com Pesos e HAS há mais de duas décadas é que este modelo de treinamento (TR) pode ter um atrativo maior que o exercício aeróbio sozinho, que é o ganho de força e massa muscular, duas valências importantíssimas para os pacientes hipertensos realizarem as atividades da vida diária com menor esforço cardiovascular, para maior entendimento do efeito do TR como forma primária no controle da PA em pacientes hipertensos complemente a leitura com Moraes et al., 2012 (Moraes, M. R., et al. (2012).

E por fim, a autora relata que em breve saíra as novas Diretrizes do Colégio Americano de Medicina Esportiva sobre o tema Exercício e Hipertensão Arterial (a última é; Pescatello et al., 2004). É provável que o novo “Stand Position” do Colégio Americano de Medicina Esportiva, com base nas atuais publicações, aponte o Treinamento Resistido com Pesos como “Evidência A” no controle, manutenção e tratamento da Hipertensão Arterial.

Prof. Dr. Milton Rocha de Moraes

– Mentor do Grupo de Estudos em Treinamento de Força na Saúde e Reabilitação
– Membro do Grupo de Pesquisa em Doenças Metabólicas, Exercício Físico e Tecnologias em Saúde- Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública
– Assessoria e palestras personalizadas em Treinamento de Força para Grupos Especiais
– E-mail: mrmoraes70@gmail.com
– Instagram
@miltonrochademoraes
– (61) 9 9 9375-7272
– Curriculo Lattes http://lattes.cnpq.br/1690322593621016

Fonte: https://www.acsm.org/blog-detail/acsm-blog/2019/06/11/new-acsm-pronouncement-exercise-hypertension. Acessado em Dezembro de 2024.

Barroso, W. K. S., et al. (2021). Brazilian Guidelines of Hypertension – 2020. Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial – 2020. Arquivos brasileiros de cardiologia116(3), 516–658. https://doi.org/10.36660/abc.20201238.

Moraes et al. (2012). Chronic conventional resistance exercise reduces blood pressure in stage 1 hypertensive men. Journal of Strength and Conditioning Research, 26(4),1122–1129. https://doi.org/10.1519/JSC.0b013e31822dfc5e.

Milton Rocha de Moraes
Milton Rocha de Moraes
Mentor do Grupo de Estudos em Treinamento de Força na Saúde & Reabilitação. Pós-Doutorado na University of Florida-UF-USA. Membro do Grupo de Pesquisa em Doenças Metabólicas, Exercício Físico e Tecnologias em Saúde- Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública. Assessoria e palestras personalizadas em Treinamento de Força para Grupos Especiais. E-mail: mrmoraes70@gmail.com Instagram: @miltonrochademoraes Curriculo Lattes http://lattes.cnpq.br/1690322593621016

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