Trabalho demonstrando que os exercícios resistidos são mais eficientes do que os aeróbicos para a produção de substâncias anti-inflamatórias e para melhorar a composição corporal.
Cheyne E. Donges, Rob Duffield, Eric J. Drinkwater; 2010 School of Human Movement Studies, Charles Sturt University, Bathurst, AUSTRALIA
Comentários: José Maria Santarem
Os autores introduzem o conceito atual de que o estado inflamatório basal do organismo está implicado na origem de muitas doenças, entre elas as doenças cardiovasculares (DCV) e o diabetes mellitus do tipo 2 (DM2).
Embora reconhecendo a importância de fatores de risco tradicionais para DCV como a dislipidemia, a hipertensão e o tabagismo, os autores comentam que cerca de 50 % dos casos de infarto agudo do miocárdio (IAM) e de acidentes vasculares encefálicos (AVE) ocorrem em pessoas sem alterações nas gorduras do sangue e de 15 a 20 % ocorrem em pessoas que não fumam e não são hipertensas.
A Interleucina-6 (IL-6) e a Proteína C Reativa (PCR) são apresentadas como marcadores imunológicos do estado inflamatório do organismo. No entanto, deve ser esclarecido que a IL-6 aumenta na fase aguda do exercício e estimula a produção das interleucinas anti-inflamatórias IL-1ra e IL-10 no pós-exercício. A PCR é o marcador correlacionado com a ocorrência de DCV e de DM2.
A PCR acima de 3 mg/l indica alto risco para a ocorrência de IAM, AVE, hipertensão arterial e obstruções arteriais. A gordura intra-abdominal também é apontada como um fator de risco para distúrbios metabólicos e doenças crônicas, sendo a sua quantidade diretamente proporcional aos níveis de PCR no sangue. Os autores também comentam a associação inversa entre aptidão física aeróbica e estado inflamatório do organismo, identificada em estudos transversais.
O presente estudo teve os objetivos de avaliar os efeitos de 10 semanas de treinamento aeróbico ou de treinamento resistido sobre os níveis basais de IL6 e de PCR, sobre a gordura intra-abdominal (IA-FM) e sobre a gordura corporal total (TB-FM). Após o atendimento aos critérios de inclusão e de exclusão, voluntários adultos e sedentários (45 homens e 57 mulheres), foram aleatoriamente distribuídos em um grupo de exercícios com pesos, um grupo de exercícios aeróbicos e um grupo controle sedentário.
Os níveis de PCR dos participantes indicavam alto risco para DCV, embora sem alterações nas gorduras do sangue. O treinamento resistido teve os seguintes exercícios realizados em 2 ou 3 séries de 8 a 10 repetições: Press peitoral, Press de ombros, Puxada alta, Remada sentada, Leg press, Flexões crurais e Passadas.
A carga variou de 70 a 75 % da carga máxima para 10 repetições (10 RM) e a duração das sessões variou de 30 a 50 minutos. O intervalo de descanso entre séries e exercícios foi de 2 minutos. O treinamento aeróbico utilizou bicicleta estacionária em sessões de 30 a 50 minutos e com intensidade de 70 a 75 % da freqüência cardíaca máxima. A freqüência de treino foi de três vezes por semana.
O grupo treinado com pesos apresentou melhora significativa de medidas de força e de massa magra, demonstrando a efetividade do treinamento. O grupo treinado aerobicamente também teve treinamento efetivo, demonstrado pela melhora de parâmetros de aptidão aeróbica.
Apenas o grupo treinado com pesos mostrou redução significante na PCR pós período de treinamento (32.7% ± 27.2% – P < 0.05), o que está coerente com outros trabalhos. A IL-6 não apresentou mudança em seus níveis em função do treinamento.
O grupo treinado aerobicamente perdeu mais gordura do que o grupo treinado com pesos, mas apresentou redução de massa magra. A análise de correlações sugere que a redução de PCR induzida pelo treinamento com pesos deva ocorrer independentemente de alterações na composição corporal.
A conclusão deste trabalho é que os resultados são coerentes com a literatura atual, indicando que o treinamento com pesos deve ser considerado a mais importante intervenção para redução do estado inflamatório basal do organismo. O resultado esperado são efeitos promotores de saúde geral, com redução da ocorrência de doença cardiovascular e redução de mortes por todas as causas.
Metodologia, tabelas, gráficos e bibliografia encontram-se no artigo original.