19 Treinamento resistido, inflamação basal e doenças crônicas

Data:

Revisão de literatura sobre a produção de substâncias anti-inflamatórias pelos músculos esqueléticos em atividade e os seus efeitos promotores de saúde geral.

A.M.W. Petersen, B.K. Pedersen; 2006 The Centre of Inflammation and Metabolism, Department of Infectious Diseases and CMRC, Copenhagen University Hospital, Rigshospitalet, University of Copenhagen, Faculty of Health Sciences, Denmark

Comentários: José Maria Santarem

Os autores iniciam a introdução com duas afirmações que atualmente podem ser feitas com base nas evidências disponíveis:

1) “A atividade física habitual está associada com menores riscos de mortalidade por todas as causas, independentemente da composição corporal”; e 2) “A inatividade física é um preditor de mortalidade por todas as causas mais forte do que fatores de risco como hipertensão, dislipidemia, diabetes e obesidade”.

Embora todos os estímulos promotores de saúde tenham importância, a atividade física habitual parece ser o mais importante. A aterosclerose é o processo degenerativo primário que compromete a integridade das artérias e leva á ocorrência de disfunções de diversos órgãos, tromboses e embolias. Por esses mecanismos, a aterosclerose predispõe ao infarto do miocárdio, acidente vascular encefálico, gangrenas periféricas, insuficiência cardíaca e arritmias.

Os autores comentam que a inflamação de baixo grau é um processo patológico que tem sido implicado na origem da aterosclerose e também na da resistência à insulina, levando ao diabetes tipo 2. Marcadores desse processo inflamatório sistêmico são o aumento no sangue se substâncias como algumas citocinas e a Proteína C Reativa (PCR). O exercício crônico produz redução da PCR, sugerindo diminuição do processo inflamatório sistêmico de baixo grau.

Também é comentado que os músculos esqueléticos produzem alguns tipos de citocinas que combatem a inflamação (miocinas). O Fator de Necrose Tumoral ? (TNF ? ) é o modelo de citocina pró-inflamação crônica, que predomina nas pessoas sedetárias e é produzido principalmente pelo tecido adiposo.

A Interleucina 6 (IL6) é a principal miocina produzida pelo músculo esquelético em atividade, tem efeito lipolítico e pró-inflamatório agudo. A IL-6 aumenta no exercício, sinalizando a inflamação aguda, mas leva ao aumento de outras interleucinas como a IL-1ra e a IL- 10 que apresentam efeito anti-inflamatório crônico. O exercício suave aumenta a IL6, mas a sua produção é diretamente proporcional à intensidade, à duração e à massa muscular envolvida.

A conclusão desta revisão é que os músculos esqueléticos funcionam como órgãos endócrinos, produzindo substâncias que no pós-exercício diminuem o estado inflamatório basal do organismo. Dessa maneira a atividade muscular parece diminuir a probabilidade de desenvolvimento de doença cardiovascular, diabetes tipo 2, câncer do colon e câncer das mamas.

Metodologia, tabelas, gráficos e bibliografia encontram-se no artigo original.

José Maria Santarem
José Maria Santaremhttps://treinamentoresistido.com.br
José Maria Santarem é doutor em medicina pela Universidade de São Paulo, fisiatra e reumatologista pela Associação Médica Brasileira, consultor científico da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte, coordenador de pós-graduação na Escola de Educação Permanente do HC-FMUSP, diretor do Instituto Biodelta, autor do livro Musculação em Todas as Idades (Ed. Manole) e coordenador do site acadêmico www.treinamentoresistido.com.br.

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