56 Benefício único do treinamento resistido  para a saúde

Os exercícios resistidos parecem ter efeitos na prevenção do câncer que os exercícios aeróbicos não têm.

Emmanuel Stamatakis, I-Min Lee, Jason Bennie, Jonathan Freeston, Mark Hamer, Gary O’Donovan, Ding Ding, Adrian Bauman and Yorgi Mavros.

Comentários: José Maria Santarem

Do início até meados da segunda metade do século XX as associações médicas recomendavam a prática de exercícios aeróbicos para a população com o objetivo de evitar doenças crônicas como o diabetes, hipertensão arterial, obesidade e as consequências da aterosclerose como o infarto, o acidente vascular encefálico, as gangrenas periféricas e as insuficiências de órgãos.

Muitos trabalhos científicos justificavam essa orientação. No entanto, ficava a ideia de que outros tipos de exercícios não eram promotores de saúde, quando na verdade não tinham sido estudados.

Nas três últimas décadas do século XX, no entanto, começaram a aparecer trabalhos mostrando que os exercícios resistidos (realizados contra resistências, geralmente pesos), tinham importantes efeitos para fortalecer os músculos e os ossos, além de melhorar a aptidão física geral, facilitando as atividades da vida diária, principalmente durante o envelhecimento.

Assim sendo, a musculação com exercícios resistidos passou a ser recomendada em associação com os exercícios aeróbicos e os exercícios de alongamento, estes com a suposição de que a flexibilidade precisaria de estímulos específicos.

Nessa época começaram a aparecer na literatura trabalhos científicos mostrando que as pessoas que tinham mais força muscular morriam menos por todas as causas, mas esses trabalhos não chegaram a mudar os consensos sobre exercícios e saúde.

Nos primeiros anos do século XXI surgiram trabalhos confirmando que os exercícios resistidos isoladamente produzem aptidão física completa, incluindo melhora da flexibilidade, pelo menos para o objetivo de funcionalidade, que é a realização eficiente e confortável dos esforços da vida diária.

Também surgiram trabalhos sugerindo que os exercícios resistidos poderiam promover saúde geral, de maneira semelhante aos exercícios aeróbicos, mas ainda não foram suficientes para mudar os consensos profissionais.

Atualmente alguns trabalhos importantes parecem ter potencial para mudar conceitos: estudos com amostras populacionais grandes têm confirmado que as pessoas com mais força muscular morrem menos por todas as causas, independente da sua condição aeróbica, e que as pessoas que praticam somente exercícios resistidos apresentam excelente funcionalidade.

O presente trabalho é representativo dessa categoria. Nesse trabalho 80.306 pessoas com 30 anos ou mais foram acompanhadas por 14 anos para os desfechos de morte por todas as causas.

As pessoas que realizaram apenas exercícios resistidos com duas ou mais sessões por semana, em ginásios ou em casa, com aparelhos ou com o peso corporal, apresentaram 23% menor probabilidade de morrer por todas as causas e 31% menor probabilidade de morrer por câncer.

As pessoas que realizaram apenas exercícios aeróbicos por pelo menos 150 minutos acumulados por semana, apresentaram 16 % menor probabilidade de morrer por todas as causas e não apresentaram redução na probabilidade de morrer por câncer.

Por outro lado, com relação às mortes especificamente por doenças cardiovasculares, as pessoas que realizaram apenas exercícios aeróbicos apresentaram 22% menor probabilidade de morte enquanto que as que realizaram apenas exercícios resistidos não diminuíram essa probabilidade.

Esses dados permitem concluir que os exercícios resistidos isoladamente são tão importantes quanto os exercícios aeróbicos para evitar doenças crônicas, provavelmente são superiores no caso de câncer e inferiores no caso de doenças cardiovasculares.

Uma tendência na modificação dos consensos de profissionais na orientação da população para a prática de exercícios é que todo exercício mais vigoroso é eficiente para promover saúde e que as pessoas devem praticar o que mais gostam para ter aderência.

Exercícios suaves como caminhar e alongamentos são pouco úteis para a saúde geral e o exercício resistido parece ser o mais eficiente, principalmente para quem está envelhecendo e apresenta dores articulares relacionadas aos movimentos.

Esses exercícios podem ser adaptados para não produzirem dores e por diversos mecanismos podem ser terapêuticos para dores crônicas.

No envelhecimento os processos de desgaste e fragilização do organismo podem ser pelo menos amenizados pelos exercícios resistidos.

Uma das razões pelas quais pessoas sedentárias têm maior incidência de doenças é que no sedentarismo ocorre aumento de substâncias que induzem um grau leve de inflamação nas artérias.

Essa situação leva à resistência à insulina e à aterosclerose. A consequência é a propensão para todas as doenças crônicas já citadas.

A contração dos músculos produz substâncias anti-inflamatórias conhecidas como miocinas, que diminuem a inflamação vascular e assim promovem saúde geral.

Os exercícios resistidos parecem ser os mais eficientes para produzir miocinas.

Metodologia, tabelas, gráficos e bibliografia encontram-se no artigo original.

José Maria Santarem
José Maria Santaremhttps://treinamentoresistido.com.br
José Maria Santarem é doutor em medicina pela Universidade de São Paulo, fisiatra e reumatologista pela Associação Médica Brasileira, consultor científico da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte, coordenador de pós-graduação na Escola de Educação Permanente do HC-FMUSP, diretor do Instituto Biodelta, autor do livro Musculação em Todas as Idades (Ed. Manole) e coordenador do site acadêmico www.treinamentoresistido.com.br.

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