Revisão de literatura sobre os efeitos da atividade física em adultos idosos.
Dale I. Lovell, PhD; Ross Cuneo, PhD; Greg C. Gass, PhD Journal of Geriatric Physical Therapy 32:117-124, 2.009.
Comentários: José Maria Santarem
Os autores esclarecem que este trabalho está em concordância com posicionamentos anteriores do American College of Sports Medicine e com o Physical Activity Guidelines for Americans de 2.008, publicado pelo Department of Health and Human Services.
O trabalho foi dividido em três sessões: na primeira são abordadas as mudanças estruturais e funcionais do envelhecimento humano; na segunda, a influência do exercício e da atividade física sobre o envelhecimento; e na terceira, as maneiras pelas quais os exercícios e a atividade física podem influenciar a saúde e a funcionalidade.
O título deste trabalho coloca de forma adequada a designação da população estudada: “adultos idosos”. Isso é importante porque muitas vezes são citados as crianças, os adolescentes, os adultos e os idosos, como se os idosos não fossem adultos.
Outro aspecto esclarecedor do título é a diferenciação entre exercício e atividade física, pois como já bem fundamentado em evidências, os benefícios da contração muscular habitual para a saúde ocorrem mesmo com atividades não sistematizadas.
Um aspecto relevante deste posicionamento é o esclarecimento de que atualmente as evidências da importância do exercício e da atividade física para adultos idosos não se limitam a pessoas saudáveis, mas abordam também pessoas portadoras de doenças crônicas.
No resumo os autores já esclarecem que a atividade física pode aumentar a expectativa de vida por controlar as doenças crônicas.
Um consenso atual bem fundamentado é que o sedentarismo deve ser evitado sempre que possível, e que mesmo baixos níveis de atividade física são benéficos.
No entanto, as atividades suaves devem evoluir em intensidade e volume sempre que possível, porque aumentam os benefícios para a saúde e para a aptidão.
Uma associação de exercícios aeróbicos, exercícios resistidos e alongamentos é recomendada, mas também é enfatizado que quando doenças crônicas impedirem a prática de exercícios aeróbicos, as pessoas devem procurar ter o máximo de atividade física que as suas condições de saúde permitirem.
Nossa observação é que esta observação também é válida para os exercícios de flexibilidade, e que os exercícios resistidos podem ser utilizados com as devidas adaptações mesmo para pessoas muito debilitadas por doenças em geral.
As categorias de evidências que os autores consideraram neste trabalho foram:
- Trabalhos experimentais controlados e randomizados, ou trabalhos de observação, cujos padrões de resultados foram consistentes entre sí.
- Trabalhos experimentais controlados e randomizados, ou trabalhos de observação, que não apresentaram padrões de resultados consistentes entre si.
- Evidências proporcionadas por um pequeno número de trabalhos de observação, ou por trabalhos experimentais não controlados ou não randomizados.
- Evidências que não podem ser incluídas nas categorias anteriores.
Considerando as alterações funcionais do envelhecimento, os autores destacam a importância da perda gradual e progressiva da força muscular e do VO2 máximo, que podem chegar a comprometer a qualidade vida pela diminuição da capacidade para realizar esforços.
A respeito das alterações morfológicas do envelhecimento, os autores comentam a mudança desfavorável da composição corporal, com destaque para a sarcopenia, com as suas conseqüências metabólicas predisponentes para as doenças cardiovasculares. As evidências para essas afirmações são de categoria “A”.
Na medida em que as pessoas envelhecem ocorre uma tendência para a diminuição das atividades físicas, com evidência categoria “A/B”.
O envelhecimento aumenta a probabilidade de morrer de complicações de doenças crônicas como as cardiovasculares, o diabetes do tipo 2, e a obesidade, além de alguns tipos de câncer.
Osteoporose, reumatismo e sarcopenia também ocorrem mais com o envelhecimento. A atividade física diminui o risco de complicações das doenças crônicas. Evidência categoria “B”. A interação entre características genéticas e estilo de vida determina como as pessoas irão envelhecer. Evidência categoria “B”.
As adaptações induzidas pelos exercícios nas pessoas idosas ocorrem pelos mesmos mecanismos identificados nas pessoas mais jovens, porem a magnitude dos fenômenos é menor. A tolerância ao exercício também é menor, principalmente com a interveniência de calor ou frio. Evidência categoria “A”.
A atividade física e provavelmente a restrição de ingestão calórica estão associadas com o envelhecimento bem sucedido e com longevidade. Aspectos fisiológicos observados no envelhecimento bem sucedido incluem a pressão arterial normal, baixos índices de gordura corporal, sensibilidade à insulina normal e níveis normais de gorduras no sangue. Evidência “B/C”.
A atividade física está identificada como eficiente na prevenção de doenças ou condições como as cardiovasculares, acidentes vasculares encefálicos, hipertensão arterial, diabetes do tipo 2, osteoporose, obesidade, câncer de colon, câncer de mama, distúrbios comportamentais, ansiedade e depressão.
Exercícios físicos, incluindo aeróbicos e resistidos, são eficientes no tratamento de doenças como doença coronariana, hipertensão, doença vascular periférica, diabetes do tipo 2, obesidade, colesterol alto, osteoporose, artrose, claudicação intermitente, doença pulmonar obstrutiva crônica, ansidedade, depressão, demência, dores em geral, insuficiência cardíaca, desmaios, acidentes vasculares encefálicos, dores lombares e obstipação. Evidência categoria “A/B”.
Atletas idosos de atividades aeróbias apresentam alta reserva cardiovascular e adaptações musculares para prolongar esforços contínuos. Também apresentam baixos níveis de gordura corporal, com seus efeitos cardioprotetores. Evidência categoria “B”.
Um menor número de trabalhos sobre atletas idosos de treinamento resistido demonstram menor gordura corporal e maior massa muscular em relação a sedentários, e em relação a atletas aeróbios, apresentam maior massa muscular, maior massa óssea,e maiores níveis de força e potência. Evidência categoria “B”.
EXERCÍCIOS AERÓBICOS
Pessoas de meia idade e idosos em treinamento aeróbico (TA) conseguem aumentar o VO2 máximo em até cerca de 16% (freqüência mínima de 3 vezes por semana, intensidade mínima de 60% do VO2 máximo prévio (intensidade moderada) e duração mínima de 16 semanas).
As adaptações cardiovasculares identificadas incluem menor freqüência cardíaca no repouso e no exercício, menores elevações da pressão arterial nos exercícios sub-máximos, melhor vasodilatação e captação de oxigênio dos músculos treinados, redução dos triglicerídeos, aumento do HDL, redução da rigidez das grandes artérias, melhora da função endotelial, melhora do baroreflexo e maior tônus vagal.
O TA produz melhora da função contrátil do miocárdio, aumento do volume máximo de ejeção e hipertrofia cardíaca, mas apenas com intensidades altas. Evidência categoria “A”.
Melhor controle glicêmico, estímulo ao metabolismo geral e aumento da massa óssea são documentados em decorrência do TA, mas de forma importante apenas com altas intensidades de exercício. Evidência categoria “B”.
Pessoas sedentárias ganham cerca de 10 quilos de gordura corporal entre os 18 e os 65 anos. Após essa idade o peso corporal tende a baixar principalmente em função da perda de massa muscular. TA de moderada intensidade sem modificações na alimentação tende a diminuir a gordura corporal em cerca de 01 (um) quilo a cada três meses e não tem qualquer efeito estimulante para a massa muscular ou a força. Evidência categoria “A/B”.
EXERCÍCIOS RESISTIDOS
Pessoas de meia idade e idosos em treinamento resistido (TR) aumentam a força muscular com variação de 25 a 100% ou mais. Evidência categoria “A”. Exercícios isotônicos parecem ser mais eficientes para estimular aumentos de força do que os isométricos ou os isocinéticos.
As fibras IIB se transformam em IIA e ocorre importante diminuição do número de fibras necessárias para a realização das atividades com esforço submáximo, com importante repercussão na qualidade de vida e na segurança cardiovascular.
A potência muscular aumenta proporcionalmente ao aumento de força, com pequenas variações em função dos métodos de treinamento. Evidência categoria “A”. A resistência muscular aumenta no TR de intensidade moderada ou alta na faixa de 34 a 200%. Evidência categoria “C”.
O TR com intensidade moderada ou alta aumenta a massa muscular entre 10 e 62% em idosos e reduz a gordura corporal. Evidência categoria “B/C”. A principal adaptação histológica muscular é a hipertrofia das fibras IIA. A redução de gordura corporal estimulada pelo TR é de magnitude semelhante à produzida por exercícios aeróbicos: 1,6 a 3,4% e 1 a 4%, respectivamente.
A massa óssea tende a aumentar no TR proporcionalmente ao aumento da força muscular, embora com muita variação individual. Evidência categoria “B”.
Os resultados dos estudos com TR em idosos mostram que o metabolismo basal pode aumentar (de 7 a 9%) ou não, provavelmente em função dos resultados sobre a massa muscular.
O HDL tende a aumentar (8 a 21%) o LDL tende a diminuir (13 a 23%), e os triglicerídeos tendem a diminuição (11 a 18%). A testosterona basal em idosos não aumenta em função do TR e as respostas agudas são diminuídas em relação aos jovens. Não está esclarecido se o TR pode impedir reduções importantes da testosterona basal em idosos.
O cortisol basal tende a diminuir em função do TR (15 a 25%), favorecendo a ocorrência de hipertrofia muscular. GH e IGF-1 são hormônios anabólicos cujas concentrações basais não parecem ser influenciadas pelo TR. Os efeitos metabólicos e hormonais do TR ainda são pouco estudados. Evidência categoria “B/C”.
EXERCÍCIOS DE EQUILÍBRIO
Exercícios específicos para equilíbrio parecem ser úteis para a prevenção de quedas. Atividades que promovem aumento da força nos membros inferiores também melhoram o equilíbrio. Evidência categoria “C”.
EXERCÍCIOS DE FLEXIBILIDADE
A flexibilidade é importante para as tarefas da vida diária, mas não há comparações entre os efeitos de exercícios específicos e de exercícios que secundariamente aumentam a flexibilidade, como é o caso do TR.
QUALIDADE DE VIDA
No aspecto de funcionalidade a qualidade de vida parece ser afetada pela atividade física, mas de forma ainda não muito esclarecida. O TR tem sido identificado como muito importante por melhorar a capacidade para caminhar, para levantar de cadeiras e aprimorar o equilíbrio.
O princípio da especificidade do treinamento tem levado a estudos em que os exercícios simulam as atividades da vida diária, mas não há conclusões definitivas. Evidência categoria “C/D”.
A sensação de bem-estar tem sido associada à prática regular de atividade física, principalmente aeróbica. Tanto exercícios aeróbicos como resistidos têm sido associados à melhora da função cognitiva em idosos. Particularmente o TR tem sido identificado como importante para o tratamento da depressão em idosos. Evidência categoria “A/B”.
Tabelas e gráficos devem ser consultados no artigo original. As recomendações gerais de programas de exercícios dos autores são coerentes com as evidências citadas no texto, mas não devem ser interpretadas como as únicas possibilidades de atuação adequada, seja para condicionamento físico ou para exercícios terapêuticos.
Como anteriormente esclarecido, doenças e debilidades podem limitar o tipo, a intensidade e a freqüência dos exercícios em idosos, que muitas vezes ficam limitados aos exercícios resistidos.
Referências bibliográficas, tabelas e gráficos encontram-se no artigo original.