17 Consenso europeu sobre sarcopenia em idosos

Propostas para a padronização de termos e conceitos.

Alfonso J. Cruz-Jentoft, Jean Pierre Baeyens, Jürgen M. Bauer, Yves Boirie, Tommy Cederholm, Francesco Landi, Finbarr C. Martin, Jean-pierre Michel, Yves Rolland, Stéphane M. Schneider, Eva Topinková, Maurits Vandewoude, Mauro Zamboni; 2010. Age and Ageing Advance Access published May 6, 2010. Published by Oxford University Press on behalf of the British Geriatrics Society.

Comentários: José Maria Santarem

Este trabalho resume o posicionamento de várias entidades geriátricas européias. O termo “sarcopenia” foi proposto em 1.989 e essa condição tem sido definida como a perda de massa muscular e força associada com a idade. Uma tendência atual é considerar a sarcopenia como uma síndrome geriátrica, tal como o delírio, quedas e incontinências.

As síndromes podem ter várias causas associadas como doenças, tendência genética e fatores ambientais como atividade física e nutrição. Muitas doenças levam ao repouso prolongado e ao uso de drogas, fatores que podem contribuir para a sarcopenia. A sarcopenia aumenta o risco de quedas e fraturas, diminui a capacidade para realizar as atividades da vida diária, leva à perda da independência e aumenta o risco de morte.

O diagnóstico de sarcopenia exige a a confirmação de perda de massa muscular associada com perda de força ou com perda de função. O termo “dinapenia” pode ser utilizado para definir perda de força e função, mas a sua utilização pode gerar confusões. A tendência é utilizar apenas a denominação sarcopenia.

Os mecanismos da sarcopenia são principalmente a diminuição da síntese protéica, o aumento da degradação protéica, perda da integridade neuromuscular e aumento do conteúdo de gordura intra-muscular. Esses mecanismos podem atuar conjuntamente, com diferentes contribuições nos casos individuais. O conhecimento dos mecanismos envolvidos em cada caso permite a intervenção mais adequada. A sarcopenia pode ocorrer em pessoas jovens, assim como a demência e a osteoporose.

Sarcopenia primária é definida pela ocorrência da condição em pessoas idosas e sem a identificação de outras causas que não a passagem do tempo. Sarcopenia secundária identifica as situações em que uma ou mais de outras causas são identificadas. Muitas vezes não é possível definir se a sarcopenia é primária ou secundária.

Pré-sarcopenia define a perda de massa muscular sem perda de força ou função.
Sarcopenia significa que além da perda de massa muscular ocorre diminuição da força ou função.

Sarcopenia severa significa que além da perda de massa muscular ocorre perda de força e de função.

Algumas classificações para graus de sarcopenia têm sido propostas (tabela5).

Caquexia é a situação de definhamento que ocorre nos estágios finais de doenças graves como o câncer, insuficiência renal e cardiomiopatia congestiva. Os mecanismos da perda muscular na caquexia podem ser a inflamação, a anorexia, a resistência à insulina ou o aumento da degradação protéica. Assim sendo, os indivíduos caquéticos são sarcopênicos, mas o inverso não é verdadeiro.

Fragilidade é definida como a situação de perdas multifuncionais em pessoas idosas que levam a reduzida capacidade de adaptação ao estresse, aumentando a probabilidade de quedas, hospitalização, institucionalização e mortalidade. Sintomas e sinais que definem a fragilidade são: perda de pesos, fraqueza, exaustão, baixa velocidade de marcha e baixo nível de atividade física. A fragilidade se acompanha de sarcopenia na maioria dos casos, mas o conceito de pessoa frágil aborda também os aspectos psicológico e social.

Obesidade sarcopênica é o nome que se dá para a perda de massa muscular, força e função, mas sem redução da massa adiposa, às vezes com o seu aumento. Isso pode ocorrer em situações com artrite reumatóide crônica, câncer e no próprio envelhecimento. Portanto o conceito de sarcopenia não envolve a perda de peso corporal. Na obesidade sarcopênica a infiltração gordurosa do músculo esquelético pode levar a perdas funcionais importantes. Durante o envelhecimento a tendência é diminuir a gordura sub-cutânea e aumentar a gordura visceral e intra-muscular.

AVALIAÇÃO DA MASSA MUSCULAR
Tomografia (pesquisa) – muito confiável, mas utiliza radiação.
Ressonância magnética (pesquisa) – muito confiável, mas caro. Relação potássio/massa magra (pesquisa) – confiável, mas trabalhoso.
DEXA: densitometria (clínica e pesquisa) – confiável, mas operador dependente.
Bioimpedância (clínica e pesquisa) – confiável, fácil e barato. Antropometria (clínica) – confiável, mas não para idosos.

AVALIAÇÃO DA FORÇA MUSCULAR
Todos os métodos são dependentes de motivação e cognição.
Força de apreensão (hand-grip) – confiável, fácil e barato.
Força de extensão do joelho – limitada pela disponibilidade de equipamento.
Pico de fluxo expiratório – limitado pela disponibilidade de equipamento e de estudos.

AVALIAÇÃO DA FUNÇÃO MUSCULAR
Todos os testes são dependentes de motivação e cognição
Bateria curta de desempenho físico (teste de Guralnik) – confiável, fácil e padronizado, avalia força, potência e equilíbrio. Consiste dos testes de sentar e levantar, caminhar 2,4 metros e permanência em pé (referência no 58).
Velocidade usual de caminhada – faz parte do teste de Guralnik
(caminhar 2,4 metros), mas pode ser utilizado separadamente.
Teste Get-up-and-go – confiável, fácil e padronizado, avalia força, potência e equilíbrio. Consiste em levantar de uma cadeira, caminhar uma curta distância, contornar um objeto e retornar à posição sentada.
Potência na escada – fácil, tem boa correlação com outros testes. Ainda pouco utilizado.

TRIAGEM
O Grupo de Trabalho Europeu sobre Sarcopenia em PessoasIidosas, que reúne quatro associações européias de geriatria, nutrição e metabolismo, sugere como triagem para sarcopenia em idosos o seguinte procedimento (figura 2):
Teste de Caminhada Usual
Se normal, teste de Força de Apreensão
Se normal: sarcopenia afastada
Se diminuído: avaliação da massa muscular
Se normal: sarcopenia afastada
Se diminuída: sarcopenia
Se alterada, avaliação da massa muscular.
Se normal: sarcopenia afastada
Se diminuída: sarcopenia

Os autores terminam o trabalho com colocação de que os objetivos de pesquisa na área da sarcopenia devem ser avaliar a importância da nutrição, dos exercícios e dos medicamentos.

Na área dos exercícios o treinamento resistido tem sido identificado como a mais eficiente e segura intervenção. Na área da nutrição, nada mais específico do que um adequado equilíbrio de nutrientes tem sido demonstrado. Na área dos medicamentos, os potenciais efeitos colaterais têm limitado a aprovação consensual de hormônios e derivados. Grande esperança é atualmente depositada na terapia gênica com células-tronco.

Metodologia, tabelas, gráficos e bibliografia encontram-se no artigo original.

José Maria Santarem
José Maria Santaremhttps://treinamentoresistido.com.br
José Maria Santarem é doutor em medicina pela Universidade de São Paulo, fisiatra e reumatologista pela Associação Médica Brasileira, consultor científico da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte, coordenador de pós-graduação na Escola de Educação Permanente do HC-FMUSP, diretor do Instituto Biodelta, autor do livro Musculação em Todas as Idades (Ed. Manole) e coordenador do site acadêmico www.treinamentoresistido.com.br.

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