Algumas doenças nas articulações dos joelhos podem provocar dores e limitações, impedindo que simples atividades diárias possam ser realizadas ou provoquem dor. Como consequência a funcionalidade vai diminuindo, assim comprometendo a qualidade de vida do indivíduo.
Grande parte das doenças que afetam as articulações dos joelhos são genéticas e gradativas, dentre elas, as mais comuns são: meniscopatias, artroses e artrites e as tendinopatias.
As tendinopatias se caracterizam por comprometimento anatômico dos tendões, como desgastes, rupturas totais ou parciais, e calcificações, ocasionados pelo processo de envelhecimento e determinados pela genética individual, deixando as articulações instáveis. Quando os tendões e os músculos, enfraquecidos pelo envelhecimento sedentário, sofrem sobrecargas das quais não estão preparados,ocorrem os processos inflamatórios, provocando dor na articulação.
Nas meniscopatias ocorre também um processo de desgaste ou lesão na estrutura do menisco, responsável por ajudar no acoplamento das peças ósseas. Essas lesões causam instabilidades articulares e provocam dor muitas vezes em situações simples da vida diária, como descer escadas.
As artroses, também conhecidas como condropatias, são caracterizadas por processos de desgaste nas articulações, causando instabilidades e consequentemente dor na região. Como consequência à instabilidade articular na condropatia, ocorre uma hipertrofia óssea (aumento do osso), prejudicando a mobilidade articular. Esse estágio tende a comprometer a funcionalidade da articulação. Em muitos casos, o tratamento pode ser uma osteoplastia, conhecida como cirurgia para implantação de próteses.
Já nas artrites a evolução da doença é diferente de uma artrose. Muitas vezes sendo decorrente de doença autoimune, a artrite causa inflamação recorrente dentro da articulação e como consequência a deterioração óssea. Nesse estágio os ossos podem se fundir um no outro, esse processo é conhecido como anquilose articular. As artroplastias, muitas das vezes, podem ser uma solução para melhorar a funcionalidade e a qualidade de vida desses indivíduos.
No que diz respeito aos tratamentos para as diversas doenças musculoesqueléticas, os medicamentos, as fisioterapias e os exercícios, como o fortalecimento muscular têm sido intervenções comuns. Quanto ao sucesso desses tratamentos o que tem sido documentado é que as medicações podem afetar a estrutura anatômica dos tendões quando utilizadas a longo prazo, especialmente os antiinflamatórios (1), por essa razão devem ser orientados, tanto na sua dosagem quanto na continuidade, por um médico. Outro ponto importante é que algumas pessoas podem apresentar dor na articulação, mesmo sem comprometimento anatômico, justificado pelo enfraquecimento isolado de músculos e tendões; esses casos chamamos de disfunção e requerem os mesmos cuidados nas adaptações dos exercícios.
A fisioterapia tradicional tem sido uma forma de diminuir os sintomas na fase aguda do processo inflamatório, mas lembrando que ela não trata a causa da dor. O enfraquecimento de tendões e músculos, junto com processos de desgastes, aumentam a instabilidade articular e provocam dor. Nesse processo o desuso da articulação por causa da dor aumenta ainda mais o enfraquecimento muscular e assim temos um círculo vicioso de evolução da doença e dor.
Com a proposta de melhorar a estabilização articular, comprometida pela evolução da doença, o fortalecimento muscular tem sido uma proposta efetiva e bem recomendada pela comunidade científica (1) (2), seja pelos seus aspectos de eficiência, o fortalecimento melhora a estabilização da articulação e melhora a sua funcionalidade, seja nos aspectos de segurança, onde as sobrecargas podem ser controladas, especialmente as amplitudes articulares, aspecto importante em estruturas com processos degenerativos e inflamatórios.
Outro aspecto a destacar é a produção de substâncias anti-inflamatórias produzidas pelos músculos durante os exercícios, as chamadas miocinas. A sua importância na prevenção de doenças metabólicas, cardiovasculares e em alguns tipos de câncer já foi comprovada (3), o que torna o papel da musculação extremamente importante, além dos aspectos de condicionamento físico e estética, objetivos também almejados entre os praticantes. Nas doenças musculoesqueléticas, o papel das miocinas ainda precisa ser melhor investigada, mas é muito provável que elas possam ter um papel também importante no controle de processos inflamatórios, mas nesse quesito é melhor acompanharmos os estudos.
No que tange os exercícios, a recomendação é fazer um fortalecimento muscular com adaptações adequadas quando as articulações dos joelhos estão comprometidas. Exercícios como leg press e agachamentos são os mais importantes por estimularem de maneira eficiente o músculo quadríceps, e também a parte posterior da coxa, responsáveis pela estabilização da articulação do joelho. As amplitudes devem ser individualmente testadas, e o exercício deve ser realizado com conforto, especialmente sem dor na sua execução. Em agachamentos muitos podem tolerar as amplitudes maiores com conforto, o que aumenta a eficiência do estímulo muscular, salvo em casos de meniscopatias que devem ser bem observados, porque as grandes amplitudes podem pinçar o menisco provocando dor no exercício ou pós treino. O leg press tradicional, como 45° ou horizontal normalmente devem ser orientados com os pés posicionados mais altos na plataforma e amplitudes parciais, ajustando assim a sobrecarga articular. Existem projetos de leg press pendulares no mercado de equipamentos que permitem realizar em uma amplitude maior no exercício com conforto, porque normalmente aliviam a sobrecarga na grande flexão de joelhos, mas devem ser projetos bem desenvolvidos. Nesse caso a linha Biodelta seria uma recomendação, são equipamentos extremamente eficientes, porque estimulam bem a musculatura e acomodam melhor as articulações, por conta da variação do peso ao longo do exercício e por não terem fatores de cisalhamento entre o platô tibial e os côndilos femorais. Essas qualidades podem ser importantes nas fragilidades articulares. A evolução dos pesos deve ser lenta e gradativa, observando a evolução individual.
Para os exercícios complementares a recomendação é incluir a cadeira extensora depois de algumas semanas de treinamento, precisa ser leve e a amplitude também ajustada quando houver relato de dor ou desconforto durante ou após a inclusão do exercício. As amplitudes curtas no início do movimento, quando o joelho está em posição de flexão, parecer ser confortável e eficiente no estímulo do tendão do quadríceps (4), e deve ser tentado quando a máxima amplitude provoca dor. Esse exercício não tem recomendação de evoluções de pesos exageradas por conta da própria biomecânica do equipamento.
Fortalecer o posterior de coxa em cadeiras flexoras ou nas chamadas mesas romanas também pode ser importante para estimular a mobilização da articulação. Esses exercícios são recomendados em uma fase mais avançada, após a inclusão da cadeira extensora.
Os cuidados nesse exercício são nas meniscopatias, que tendem a resistir à flexão de joelho. Observar o conforto e a dor neste exercício serão fundamentais para os bons resultados nos exercícios. Se necessário pode ser excluído ou até substituído pelo stiff, que estimula bem a cadeia posterior da coxa, sem induzir aos desconfortos produzidos pela flexão dos joelhos.
Outro aspecto importante, e com ampla fundamentação científica, é a importância de enfatizar a contração excêntrica durante o exercício (5). Movimentos lentos e controlados na fase em que o músculo está sendo alongado promovem proliferação do tecido conjuntivo, contribuindo para a melhor capacidade do músculo em absorver sobrecargas externas, melhorando muito a funcionalidade da articulação. Mesmo em movimentos curtos, adaptados por conto de conforto articular, é possível e importante enfatizar o movimento lento nessa fase do exercício. Por essa razão a isometria será nossa última opção de adaptação dos exercícios e somente será recomendada quando no mínimo movimento a articulação apresentar dor. Algumas evidências sugerem inclusive o papel da contração excêntrica na remoção de processos inflamatórios (6).
A evolução dos pesos é importante para promover melhora da força e hipertrofia de músculos e tendões (7), mesmo que em pequenas amplitudes, mas sempre respeitando o conforto individual e a evolução.
Importante, procurar um especialista para diagnosticar as origens das dores nos joelhos para que as adaptações sejam realizadas de forma assertiva, e ser acompanhado por um profissional qualificado e especializado é a recomendação!
Profa. Msc. Sandra Nunes de Jesus
Coordenadora do Instituto Biodelta e da Biodelta Metodologia
1. Kristensen J, Franklyn-Miller A. Resistance training in musculoskeletal rehabilitation: a systematic review. Br J Sports Med. 2012 Aug;46(10):719–26.
2. Santarem JM. Musculação em todas as idades. Editora Manole;
3. Stamatakis E, Lee IM, Bennie J, Freeston J, Hamer M, O’Donovan G, et al. Does Strength-Promoting Exercise Confer Unique Health Benefits? A Pooled Analysis of Data on 11 Population Cohorts With All-Cause, Cancer, and Cardiovascular Mortality Endpoints. Am J Epidemiol. 2018 May 1;187(5):1102–12.
4. Pedrosa GF, Lima FV, Schoenfeld BJ, Lacerda LT, Simões MG, Pereira MR, et al. Partial range of motion training elicits favorable improvements in muscular adaptations when carried out at long muscle lengths. EJSS . 2022 Aug;22(8):1250–60.
5. Douglas J, Pearson S, Ross A, McGuigan M. Chronic Adaptations to Eccentric Training: A Systematic Review. Sports Med. 2017 May;47(5):917–41.
6. Camargo PR, Alburquerque-Sendín F, Salvini TF. Eccentric training as a new approach for rotator cuff tendinopathy: Review and perspectives. World J Orthop. 2014 Nov 18;5(5):634–44.
7. Jan MH, Lin JJ, Liau JJ, Lin YF, Lin DH. Investigation of clinical effects of high- and low-resistance training for patients with knee osteoarthritis: a randomized controlled trial. Phys Ther. 2008 Apr;88(4):427–36.