Dores em Quadris e Musculação

As dores em quadris podem estar associadas a diversas doenças, sendo as mais comuns  as tendinopatias, as bursites, as artroses e artrites de quadris. As tendinopatias, nome genérico para as doenças dos tendões, são caracterizadas por  processos inflamatórios (tendinites), degenerações (tendinoses), calcificações e/ou rupturas (totais ou parciais) dessas estruturas. Já as bursites são inflamações nas bolsas serosas das articulações, normalmente em resposta às  tendinites. Nos quadris  as mais comuns são as bursites trocantéricas.

Nas artroses (condropatias) ocorrem os desgastes na articulação; como um processo evolutivo a cartilagem perde espessura e o osso se hipertrofia patologicamente, diminuindo o espaço articular e comprometendo assim a mobilidade da articulação. No caso das artrites, doença auto imune, os processos inflamatórios são recorrentes nas articulações e, esses processo contínuo pode levar à uma degradação (deterioração)  óssea e da cartilagem; em casos mais avançados, a prótese de quadril pode ser uma alternativa para a melhora da funcionalidade nesses casos.

A maior parte das doenças são de origem genética, e quando associadas a esforços repetitivos ou estilo de vida sedentário podem agravar as dores e comprometer a qualidade de vida do indivíduo.

A partir dos 25 anos começamos a perder massa muscular, que vai se acentuando ao longo das décadas de vida, como um processo natural do envelhecimento. Como consequência, as articulações já comprometidas pelas doenças, junto com o envelhecimento sedentário,  enfraquecem-se, afetando a sua estabilidade e mobilidade, levando por fim a diminuição da funcionalidade articular.

As doenças do aparelho músculo esquelético são irreversíveis, mas músculos e tendões fortalecidos podem contribuir para diminuição das suas evoluções, aumentando a vida útil da articulação, além de favorecer a melhora da funcionalidade, mesmo com doenças, e por fim, promover qualidade de vida para as  pessoas com comprometimento em quadris.

Os tratamentos vão desde a suplementação de alguns tipos de colágenos, ainda com poucos resultados científicos  sobre a sua eficácia no tratamento, até ao uso de medicamentos, como antiinflamatórios e corticóides, além da fisioterapia,  exercícios de fortalecimento muscular e alongamentos. Vale ressaltar que, o uso contínuo de medicamentos pode levar a uma degeneração precoce da estrutura dos tendões, como já demonstrado em trabalhos científicos (1); e são paliativos, não tratam a causa dos sintomas, que na maioria das situações está associada ao aumento da fragilidade da articulação, causada pela progressão das doenças. Por essa razão, os exercícios, especialmente de fortalecimento muscular, devem fazer parte da rotina, mas com atenção sempre  ao conforto articular durante a sua prática.

Exercícios que pioram a dor durante ou após a sessão devem ser constantemente reavaliados e adaptados para que as dores estejam melhor controladas, favorecendo inclusive a adesão do indivíduo ao treinamento e a boa recuperação articular pós treino. Os exercícios contínuos, como correr, pedalar e nadar tendem a sobrecarregar mais as articulações por conta dos movimentos repetitivos, o que já não ocorre na musculação, por ser uma atividade intervalada e controlada, especialmente no número de repetições, e no número de exercícios para a região (2). As sobrecargas nos esforços de vida diária também devem ser orientadas e minimizadas, para melhor controle das dores, como ficar muito tempo na posição sentada, cruzar excessivamente as pernas, sentar em sofá ou poltrona muito macios.

O fortalecimento muscular tem se mostrado uma intervenção importante na melhora da estabilidade das articulações, além da melhora no quadro de dor (3,4). Músculos fortes absorvem as sobrecargas externas, diminuindo os desconfortos nas articulações em esforços da vida diária, como andar, sentar e levantar, e subir escadas. Esses benefícios estão associados aos benefícios de  hipertrofia de músculos e tendões promovidos pelo fortalecimento muscular, que mesmo em condições de integridade anatômica comprometida, respondem ao estímulo do treinamento, estabilizando e reduzindo as sobrecargas nas articulações, e por fim melhorando a sua funcionalidade (2).

O treinamento resistido, popularmente conhecido como musculação,  é muito eficiente e seguro para o fortalecimento muscular, especialmente em situações de fragilidades e doenças musculoesqueléticas (2). Os seus benefícios terapêuticos têm sido demonstrados em muitos trabalhos científicos (3). O Instituto Biodelta também  tem contribuído com esses achados por meio de trabalhos apresentados em Congressos Científicos, e em algumas publicações.

Na musculação,  as sobrecargas do treinamento são mais facilmente controladas, especialmente os pesos, as amplitudes e as repetições, principais aspectos a serem manipulados em condições de limitações músculo esqueléticas. Por essa razão, pessoas em qualquer idade, jovens, adultos e idosos,  em situações de fragilidade articular, podem facilmente aderir a musculação, sem agravar o quadro de dor; desde que bem acompanhadas por profissionais especializados na área (2).

O programa de treinamento precisa contemplar os principais exercícios da musculação. Conhecidos como exercícios básicos, pela sua eficiência, esses exercícios solicitam integralmente os grandes grupos musculares durante o movimento, são eles: supino ou press peitoral, remadas, press de ombros (desenvolvimento), rosca lateral, extensão de tríceps, agachamento ou leg press, gêmeos e abdominais.

Nas condições de problemas em quadris, o Leg Press e/ou Agachamento é o exercício básico mais importante para essa estrutura, e deve fazer parte do programa de treino. As amplitudes e cargas devem ser ajustadas para o conforto. Exercícios complementares, como a cadeira abdutora, podem contribuir para a melhora do ajuste articular, mas não devem ter pesos excessivos para não sobrecarregar a articulação ou provocar dor. Pesos maiores e ênfase na sua evolução, devem ocorrer nos exercícios básicos, por serem multiarticulares e solicitarem grupos musculares maiores.

No caso de próteses em quadris, o cuidado maior na cadeira abdutora deve ser na fase final da contração excêntrica, evitando aproximar os joelhos; nessa posição o quadril em flexão associado à uma rotação da articulação no quadril, junto com a adução, pode deslocá-la. Exercícios para os glúteos podem ser experimentados, inclusive para o lado mais afetado, mas sempre com pesos pequenos, na mesma proposta terapêutica. Outros exercícios podem complementar o programa de treino, e também parecem ser muito eficientes  para a articulação do quadril, como o Stiff ou Lombar, especialmente nas tendinopatias.

Para todos os exercícios, a amplitude deve ser adequada ao conforto, e mesmo quando muito curta, a ênfase na contração excêntrica deve ser orientada. Trabalhos mostram que os exercícios resistidos com ênfase nas contrações excêntricas constituem a melhor forma de mecanoterapia.Nessa fase da contração muscular, fase excêntrica do movimento, quando enfatizada, contribui para aumentar a sobrecarga no tecido conjuntivo, favorecendo a sua proliferação. Como resultado, ocorre o aumento da capacidade elástica muscular, aumentando sua capacidade de absorção de sobrecargas, e é considerado o alongamento muscular mais eficiente. Alguns trabalhos também demonstraram que a fase excêntrica da contração muscular contribui para  a remoção de processos inflamatórios.

Importante, procure sempre um profissional especializado no acompanhamento dos seus exercícios!

 

MSc. Sandra Nunes de Jesus é  profissional de Educação Física e atualmente é coordenadora técnica do Instituto Biodelta e da Biodelta Metodologia.

 

Referências

 

  1. Kristensen J, Franklyn-Miller A. Resistance training in musculoskeletal rehabilitation: a systematic review. Br J Sports Med. 2012 Aug;46(10):719–26.
  2. Santarem JM. Musculação em todas as idades. Editora Manole;
  3. Cranmer M, Walston Z. Heavy resistance training in the management of hip pain in older adults: A case series. Physiother Theory Pract. 2022 Dec;38(12):2241–9.
  4. Hansen S, Mikkelsen LR, Overgaard S, Mechlenburg I. Effectiveness of supervised resistance training for patients with hip osteoarthritis – a systematic review. Dan Med J [Internet]. 2020 Jun 1;67(6). Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/32741435

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