Trabalho documentando importantes benefícios para o condicionamento cardiovascular produzidos pelo exercício de agachamento para força e hipertrofia, isoladamente, em homens idosos.
Zachary Y. Kerr, Christy L. Collins and R. Dawn Comstock. Am J Sports Med 2010 38: 765
Comentários: José Maria Santarem
Os autores tiveram como objetivo medir as respostas cardiovasculares durante exercício aeróbio submáximo em homens com idade entre 70 e 80 anos antes e após 16 semanas de treinamento resistido (TR).
A proposta de estudo é relevante porque embora os efeitos do TR na força e na massa muscular, entre outros efeitos importantes, estejam bem estabelecidos, os estímulos para a aptidão cardiovascular ainda estão mal esclarecidos.
Os aumentos de VO2 máximo e a melhora da resistência submáxima são bem conhecidos como resultados do treinamento aeróbico e são devidos a adaptações centrais e periféricas.
No entanto, cada vez mais trabalhos documentam que o TR produz alterações metabólicas no músculo esquelético que podem influenciar positivamente o desempenho aeróbico submáximo e aumentar o VO2 máximo, principalmente em pessoas idosas.
Embora o VO2 máximo seja uma medida reconhecida de aptidão cardiovascular, a medida das respostas cardiovasculares durante exercício submáximo parece ser mais adequada.
Poucas pessoas utilizam o VO2 máximo na vida diária, cujas atividades habitualmente envolvem esforços submáximos, principalmente em idosos. Por outro lado, a função cardíaca em exercícios aeróbicos submáximos tem sido associada com menor risco de doença cardiovascular e seus eventos fatais.
Pessoas moderadamente ativas, mas que não participavam de programas habituais de exercícios foram adequadamente avaliadas do ponto de vista da saúde cardiovascular e musculoesquelética. Os 24 homens selecionados foram aleatoriamente divididos em dois grupos: A) treinados com pesos; B) não submetidos a exercícios.
Os seguintes parâmetros foram avaliados antes e depois das 16 semanas de treino, a cada 4 semanas durante o experimento, e também após 4 semanas de destreinamento,:
a) força de membros inferiores com teste de carga máxima para uma repetição no agachamento inclinado;
b) VO2 máximo;
c) parâmetros de função cardiovascular em exercícios aeróbicos submáximos em bicicleta ergométrica (Freqüência Cardíaca, Pressão Arterial, Duplo Produto, Volume Sistólico, Débito Cardíaco, Diferença Arterio-Venosa de O2 e Resistência Periférica Total).
As sessões ocorreram em dias alternados, três vezes por semana, com o exercício de agachamento inclinado. No início de cada sessão ocorreu aquecimento com 5 minutos de bicicleta ergométrica e cinco minutos de alongamento para os membros inferiores, o que também ocorreu no final das sessões.
A primeira série de agachamento ocorreu com 50% da carga máxima e 10 repetições. Em seguida foram realizadas 3 séries de 6 a 10 repetições, com cargas de 50% de 1RM nas primeiras duas semanas, e de 70 a 90% nas demais sessões. O intervalo de descanso entre séries foi de dois minutos. As cargas foram reajustadas a cada 4 semanas, após os testes de 1RM.
A força da perna aumentou em média 89,7 % no grupo treinado, e do período de destreino diminuiu em média 16,6 %. O VO2 máximo aumentou 6,7 % no grupo treinado e diminuiu 0,3 % no período de destreino. O grupo sem exercícios não apresentou variações na força muscular e no VO2 máximo durante o período de exercícios.
Nos exercícios aeróbicos submáximos foram observados no grupo treinado:
1) menor freqüência cardíaca;
2) menor pressão arterial sistólica;
3) menor duplo- produto;
4) maior volume sistólico;
5) pouca alteração do débito cardíaco com o aumento de carga;
6) maior diferença artériovenosa de O2.
Essas alterações indicativas de melhor função cardiovascular foram mantidas após o período de destreino, apesar da diminuição do VO2 máximo.
Os autores concluíram que o treinamento resistido tem importantes efeitos na função cardiovascular em pessoas idosas, avaliada em exercícios aeróbicos submáximos, e deve ser considerado pelos profissionais como uma eficiente intervenção para melhorar a aptidão cardiovascular para as atividades do dia a dia nessa população.
Essa conclusão é de particular importância porque com muita freqüência, as pessoas idosas têm impossibilidade de realizar exercícios aeróbicos devido a dores articulares, vertigens, dispnéia, arritmia ou angina.
Metodologia, tabelas, gráficos e bibliografia encontram-se no artigo original.