39 Treinamento resistido e diabetes

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Novas evidências sugerem a superioridade da musculação para prevenção e tratamento do diabetes mellitus do tipo 2 em relação aos exercícios aeróbicos.

Barbara Strasser e Dominik Pesta; 2013. Hindawi Publishing Corporation / BioMed Research International Volume 2013, Article ID 805217, 8 pages / http://dx.doi.org/10.1155/2013/805217

Comentários: José Maria Santarem

Inicialmente os autores comentam que a prevalência mundial crescente de diabetes mellitus do tipo 2, ou diabetes do adulto, tem sido atribuída ao concomitante aumento de prevalência da obesidade e do sedentarismo.

Os exercícios físicos têm sido reconhecidos como muito importantes para prevenção e tratamento do diabetes, sendo recomendadas 3,5 horas por semana de atividade física de intensidade moderada ou 2 horas semanais de exercícios mais intensos, que pode ser musculação.

Os conhecidos benefícios fisiológicos dos exercícios aeróbicos são lembrados, entre eles o aumento do VO2 máximo, condicionamento cardiorrespiratório, transporte e oxidação aumentadas de ácidos graxos, aumento da densidade capilar e maior capacidade mitocondrial.

Os efeitos benéficos do treinamento resistido (TR) começaram a ser documentados em época posterior aos dos exercícios aeróbicos. Antes de 1990, nem a American Heart Association e nem o American College of Sports Medicine (ACSM) tinham recomendações para incluir o TR em programas de condicionamento físico, para saúde ou reabilitação.

Após 1990 a American Diabetes Association (ADA) e o ACSM passaram a recomendar o TR com pelo menos duas sessões semanais em associação com treinamento aeróbico para pessoas com diabetes tipo 2.

As evidências atuais sugerem que o TR pode ser útil para prevenir e tratar o diabetes do tipo 2 independente dos exercícios aeróbicos. A força muscular tem sido positivamente correlacionada com menor incidência de síndrome metabólica e com baixa mortalidade por todas as causas.

Diversos mecanismos metabólicos parecem interagir para explicar a tendência para o diabetes no sedentarismo e a redução da sua incidência como efeito dos exercícios, particularmente do TR:

– Os músculos esqueléticos constituem o principal depósito de glicose e de triglicerídeos do organismo. A perda progressiva de massa muscular após os 30 anos de idade, além de diminuir a taxa metabólica basal prejudica o metabolismo da glicose, predispondo ao diabetes tipo 2.

– A gordura abdominal tende a aumentar em torno de 300% entre as idades de 25 e 65 anos, e mesmo com índice de massa corporal normal, aumenta o risco de hipertensão e resistência à insulina. Além disso, a obesidade favorece o aumento do estado inflamatório do organismo, predispondo a doença cardiovascular.

– A adiponectina é uma proteína do organismo identificada como promotora de sensibilidade à insulina cujos níveis diminuem com o aumento de gordura abdominal. A obesidade também produz aumento de lipídeos entre as fibras dos músculos esqueléticos, favorecendo a resistência à insulina. A gordura intracelular aumentada também pode reduzir em cerca de 40% a função mitocondrial.

– No diabetes tipo2 a translocação de GLUT4 para a membrana celular da fibra muscular está prejudicada, dificultando a captação de glicose e diminuindo a capacidade de síntese de glicogênio.

Trabalhos recentes tem identificado o TR como o melhor exercício indutor de efeitos úteis para contrapor os efeitos do envelhecimento e para evitar e tratar o diabetes tipo2, sendo superior aos exercícios aeróbicos.

No entanto, muitos autores ainda recomendam associar o TR com os aeróbicos para diabéticos. Em resumo, o TR parece ser importante no diabetes tipo 2 por aumentar a sensibilidade à insulina e melhorar o controle glicêmico.

Esse efeito se deve ao aumento de massa muscular, aumento da taxa metabólica, redução da gordura abdominal, melhora da função mitocondrial e melhora da captação de glicose na membrana da fibra muscular.

Além disso, o TR diminui os marcadores de inflamação, tornando menos provável a ocorrência das complicações vasculares. Alguns dados de pesquisa são:

– Uma única sessão de TR aumenta em 26% a taxa de remoção de gorduras prejudiciais da circulação, o que é devido a ativação da enzima lipase lipoproteica no músculo esquelético.

– A contração muscular produz translocação de GLUT4 para a membrana da fibra, favorecendo a captação de glicose pelo músculo independente da insulina.

– O seguimento de 32.000 homens por 18 anos mostrou que o TR acima de 150 minutos por semana diminui a risco de diabetes do tipo 2 em 34%. Essa redução foi de 60% para os que apresentavam IMC ? 30.

– Uma única sessão de TR aumenta por 24 horas a sensibilidade à insulina.

– A redução da gordura abdominal e de lipídeos hepáticos estimulada pelo TR parece ser mais eficiente em pessoas com diabetes tipo 2 do que em controles.

– A melhora da sensibilidade à insulina ocorre no TR mesmo sem aumentos de VO2 máximo, sem perda de peso corporal e sem melhora da composição corporal.

– O aumento de massa muscular estimulado pelo TR é muito dependente da constituição genética individual. Quando ocorre a hipertrofia muscular os efeitos para controle do diabetes são melhores, mas mesmo sem aumento de massa muscular os efeitos do TR no transporte de glicose são significantes.

– O TR inibe a enzima que catalisa o glicogênio e assim aumenta a sua concentração, favorecendo o metabolismo glicídico. O glicogênio muscular apresenta aumentos importantes com poucas semanas de TR em diabéticos do tipo 2.

– A função mitocondrial é estimulada pelo TR nos mesmos níveis dos exercícios aeróbicos.

– O consumo de oxigênio pós-exercício (EPOC) aumenta no TR mais do que nos exercícios aeróbicos, indicando mobilização de gordura no período de recuperação e contribuindo para o controle da obesidade.

– A transformação de fibras brancas IIB em fibras brancas IIA, induzida pelo TR, favorece o controle glicêmico porque as fibras IIA são mais sensíveis à insulina.

Como conclusão, os autores comentam que o TR, além de ser muito eficiente para evitar e tratar o diabetes do tipo2, ainda é o exercício mais adequado no envelhecimento por evitar a sarcopenia e promover aptidão física para uma boa qualidade de vida.

Outra qualidade do TR lembrada é o pouco tempo necessário para a sua prática, sendo por essa razão muito adequado para a população urbana moderna.

Aspecto importante é que o TR, ao contrário dos exercícios aeróbicos, permite adaptações para qualquer condição de saúde, sendo possível até mesmo para as pessoas que têm dificuldade para caminhar.

Metodologia, tabelas, gráficos e bibliografia encontram-se no artigo original.

José Maria Santarem
José Maria Santaremhttps://treinamentoresistido.com.br
José Maria Santarem é doutor em medicina pela Universidade de São Paulo, fisiatra e reumatologista pela Associação Médica Brasileira, consultor científico da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte, coordenador de pós-graduação na Escola de Educação Permanente do HC-FMUSP, diretor do Instituto Biodelta, autor do livro Musculação em Todas as Idades (Ed. Manole) e coordenador do site acadêmico www.treinamentoresistido.com.br.

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