43 Treinamento resistido e tendinopatias

Data:

O treinamento resistido parece ser o melhor tratamento para os problemas dos tendões.

Jong Bum Kob, Jonathan P. Farthingc, Scotty J. Butchera, 2014. Journal of Science and Medicine in Sport, 2014.

Comentários: José Maria Santarem

Os autores introduzem o assunto comentando a função de abdução e rotação externa do m. supraespinhal, no manguito rotador dos ombros (supraespinhal, infraespinhal, subescapular e redondo menor).

Outro comentário é sobre a frequente ocorrência de processos degenerativos nos tendões do manguito rotador (processos de desgastes) conhecidos como tendinopatias.

Nota: na realidade a degeneração dos tendões é a tendinose. Tendinopatia é um termo genérico que envolve a tendinose, as tendinites e as rupturas, parciais ou totais. A tendinose costuma ser assintomática e pode ocorrer em pessoas já na terceira década de vida.

Quando ocorre a tendinite, que é a inflamação do tendão aparece a dor, que pode ser discreta ou intensa. As rupturas são esperadas na evolução das tendinoses, geralmente na quarta ou quinta década de vida e podem ser assintomáticas ou produzirem piora de dores crônicas.

Os autores comentam que as tendinopatias são habitualmente tratadas de forma conservadora, com alongamento e fortalecimento dos músculos e tendões do manguito rotador e escapulares.

Os exercícios utilizados envolvem a abdução contra resistência do ombro na contração concêntrica, quando a força gerada vence a carga, e a contração excêntrica, quando a carga é maior do que a força, ocorrendo o alongamento do músculo apesar da contração.

Nota: na presença de processos patológicos esses exercícios precisam utilizar amplitudes e cargas adaptadas para o conforto.

Os autores esclarecem que a contração excêntrica não apenas é muito importante para induzir força e hipertrofia nos músculos esqueléticos, mas também para estimular os processos de cura e cicatrização dos tendões.

Após treinamento excêntrico foi documentada a diminuição do edema dos tendões e com cargas altas, a síntese de colágeno e a promoção de revascularização.

Por essas razões, o treinamento resistido excêntrico tem sido utilizado para tratar tendinopatia dos membros inferiores e já existem evidências para sua aplicação nas tendinopatias do manguito rotador, que apresentam as mesmas reações histológicas.

Melhora de dores e de função nos membros superiores têm sido documentadas em programas de treinamento resistido excêntrico envolvendo abdução e rotação externa.

Aspectos ainda não bem estudados são os efeitos do treinamento resistido concêntrico e excêntrico sobre o comprimento dos feixes musculares e sobre o ângulo de inserção das fibras. Esses fatores contribuem para a força dos músculos esqueléticos.

Como objetivos deste trabalho os autores colocam o estudo dos efeitos do treinamento resistido isocinético concêntrico e excêntrico na arquitetura das fibras e na força do músculo supraespinhal, com a finalidade de orientar condutas práticas.

Treze pessoas sem contra indicações para exercícios, sete mulheres e seis homens com idades entre 18 e 50 anos, concluíram um estudo de oito semanas em que a metade randomizada dos participantes realizou três vezes por semana treinamento isocinético concêntrico e a outra metade treinamento isocinético excêntrico, com exercício de abdução para o ombro direito.

Avaliação de imagens com ultra som e de força de abdução foram realizadas no início e al final das oito semanas.

Nas primeiras quatro semanas o treinamento consistiu em 4 séries de 8 repetições com esforço máximo a 60 graus/segundo e um minuto de descanso entre séries. Nas segundas quatro semanas o protocolo foi de 6 séries de 6 repetições, com as mesmas características.

Os resultados mostraram que tanto o treinamento resistido concêntrico quanto o excêntrico promoveram aumentos significantes de volume muscular, ângulo de inserção das fibras e força (torque). O treinamento apenas concêntrico levou a uma diminuição do comprimento dos feixes musculares, o que não ocorreu com o treinamento excêntrico.

Os autores comentam que outros trabalhos mostraram aumento no comprimento dos feixes musculares com o treinamento resistido convencional ou apenas excêntrico, o que não ocorreu neste estudo.

Considerando o conjunto de dados da literatura é possível afirmar que o treinamento resistido convencional (concêntrico e excêntrico) ou apenas excêntrico produz importantes adaptações dos músculos esqueléticos e nos seus tendões, induzindo melhoras funcionais e redução de dores por tendinopatias.

Aspectos apenas recentemente documentados é que os tendões estimulados pelo treinamento resistido não apenas ficam mais espessos e fortes em função da síntese aumentada de colágeno e reorientação de suas fibras, mas também apresentam aumento de revascularização, fundamental para a resolução de processos inflamatórios crônicos.

Cada vez mais os exercícios resistidos são reconhecidos como exercícios terapêuticos ideais, não apenas pela eficiência na indução de adaptações úteis, mas também pela segurança dada pela correta seleção de exercícios e pela adaptação de cargas e amplitudes.

Metodologia, tabelas, gráficos e bibliografia encontram-se no artigo original.

José Maria Santarem
José Maria Santaremhttps://treinamentoresistido.com.br
José Maria Santarem é doutor em medicina pela Universidade de São Paulo, fisiatra e reumatologista pela Associação Médica Brasileira, consultor científico da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte, coordenador de pós-graduação na Escola de Educação Permanente do HC-FMUSP, diretor do Instituto Biodelta, autor do livro Musculação em Todas as Idades (Ed. Manole) e coordenador do site acadêmico www.treinamentoresistido.com.br.

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