10 Treinamento resistido na imaturidade

obert M. Malina, PhD Clinical Journal of Sport Medicine.16:478–487, 2.006.

Comentários: José Maria Santarem

O autor define o treinamento resistido (TR) como “exercícios dinâmicos realizados com sobrecargas progressivas e destinados a estimular a força e a resistência dos músculos”. A expressão exercício dinâmico é usada como sinônimo de exercício isotônico.

A histórica contra-indicação do TR para crianças pré-púberes é referida como baseada na concepção de que a falta de hormônios andrógenos iria impedir os ganhos de força, e nas hipóteses de alto risco de lesões, danos potenciais à placa de crescimento e soldadura precoce das epífises ósseas.

O autor comenta que atualmente o TR é recomendado para aumentar a força muscular em crianças pré-púberes, melhorar o desempenho esportivo, melhorar a composição corporal, aumentar a massa óssea, e prevenir lesões no esporte. Todavia, algum risco de lesões é reconhecido, principalmente quando os exercícios são mal supervisionados.

Este trabalho de revisão da literatura teve o objetivo de avaliar os efeitos do TR em jovens na puberdade e pré-púberes, sendo que alguns trabalhos incluíram crianças de 5 a 6 anos de idade.

O estagio de desenvolvimento foi avaliado em 19 trabalhos pela quantidade de pêlos pubianos e pelo desenvolvimento dos órgãos genitais nos meninos e das mamas nas meninas. Alguns trabalhos foram feitos apenas com meninos e outros, com meninos e meninas.

Apenas trabalhos experimentais controlados foram incluídos na revisão, e os dados avaliados foram a força muscular, a composição corporal, a influência sobre o crescimento e a ocorrência de lesões. Vinte e dois trabalhos foram considerados, incluindo duas meta análises.

Apenas trabalhos com exercícios isotônicos foram considerados e estudos com jovens atletas em treinamento de força isométrico foram excluídos. A maior parte dos estudos teve de 8 a 12 semanas de intervenção, a freqüência semanal foi de duas ou três sessões e os protocolos de treinamento utilizaram máquinas com pesos ou pesos livres.

FORÇA MUSCULAR

Todos os trabalhos, com uma única exceção, mostraram ganhos de força consideráveis mesmo na pré-adolescência. Os trabalhos que incluíram destreino mostraram que os ganhos de força são perdidos ao longo do tempo, e que um treino por semana não consegue evitar essa situação.

ALTURA, PESO E COMPOSIÇÃO CORPORAL

O índice de massa corporal (IMC: peso/altura2) foi medido ou estimado em todos os trabalhos. Esse parâmetro sugere que a maioria dos meninos estudados eram obesos ou estavam com sobre peso.

O autor levanta a possibilidade de que o TR possa atrair mais os meninos com maior IMC.

O crescimento em estatura foi igual nos grupos controles e experimental, sugerindo que o TR não influencia a taxa de crescimento de meninos e meninas. As variações nas médias de peso corporal indicam que todos os jovens no grupo experimental ganharam peso.

Na maioria dos trabalhos as dobras cutâneas eram mais finas após o período de treinamento, mas as diferenças foram pequenas. As mudanças nas circunferências de braços e coxas também foram pequenas, tanto nas avaliações antropométricas quanto nas avaliações por tomografia.

A conclusão geral é que o TR não influencia o crescimento em altura, o peso e a composição corporal em crianças e jovens adolescentes. O autor questiona a utilidade de incluir o TR nas abordagens de crianças obesas com a proposta de preservar a massa muscular durante períodos de dieta. Em nossa opinião, não é possível extrapolar as conclusões dos dados do presente trabalho para a situação citada, que não foi estudada.

GANHOS DE FORÇA

Os ganhos de força demonstrados nos trabalhos foram grandes, e não têm paralelismo com a massa muscular, de onde se supõem importante componente de adaptação neural. Possíveis fatores atuantes são: maior recrutamento de unidades motoras (UM); maior freqüência de disparo de UM; alteração no padrão de recrutamento de UM; mudanças nas características contráteis das fibras musculares.

Nos meninos púberes, acredita-se que os ganhos de força sejam potencializados pela hipertrofia muscular devido aos aumentos de GH (hormônio do crescimento) e de testosterona, estimulados pelo TR. No estágio pré-púbere não parece haver diferenças importantes entre meninos e meninas com relação ao ganho de força.

LESÕES

Dos trabalhos estudados, apenas 10 monitoraram a ocorrência de lesões. Entre 209 participantes, apenas três lesões foram identificadas em meninos: duas distensões em ombros e uma contusão na coxa por queda de barra.

Nenhuma lesão ocorreu em meninas. Em alguns dos estudos ocorreram análises dos músculos e ossos com cintilografia e nenhuma alteração foi identificada.

Em outros estudos foram avaliadas enzimas indicativas de agressão aos músculos, cartilagens e tecido conjuntivo, nos momentos pré e pós sessão de exercícios, sendo que nenhuma mostrou alterações.

Uma alteração em enzima muscular em repouso sugere catabolismo aumentado, o que já se sabe ser o início do processo de hipertrofia dos músculos.

Outros estudos não considerados neste trabalho demonstraram que as lesões mais freqüentes no TR em jovens são as distensões musculares nas costas, geralmente produzidas pelo treinamento ou competição em levantamento de pesos.

A lesão potencialmente mais grave documentada em treinamento com pesos é a lesão em placa de crescimento dos ossos. Esse tipo de lesão é muito rara, somente foi encontrada em levantamento de pesos não supervisionado e nunca foi documentada no TR habitual.

CONCLUSÕES

O autor conclui que o TR em crianças e jovens adolescentes é seguro e eficiente para aumentar a força muscular, e não afeta o crescimento em estatura, o peso e a composição corporal.

Nosso comentário final é que a eficiência e a segurança do TR estão demonstradas em muitas situações de saúde comprometida ou de fragilidade, como é o caso da infância e da velhice.

Outra situação de fragilidade é a gravidez, que está começando a ser estudada. No caso das crianças, existe um quase consenso no sentido de que as atividades físicas devem ser lúdicas e não competitivas.

A maioria das crianças não demonstra interesse por atividades individuais e de concentração, como é o caso do TR. No entanto, muitas vezes o fortalecimento muscular pode ser uma necessidade, como é o caso de prevenção de lesões esportivas e o tratamento de doenças ou disfunções.

Para essas situações, e também quando a criança demonstrar interesse na prática do TR é importante saber que não há contra indicações.

Referências bibliográficas, tabelas e gráficos encontram-se no artigo original.

José Maria Santarem
José Maria Santaremhttps://treinamentoresistido.com.br
José Maria Santarem é doutor em medicina pela Universidade de São Paulo, fisiatra e reumatologista pela Associação Médica Brasileira, consultor científico da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte, coordenador de pós-graduação na Escola de Educação Permanente do HC-FMUSP, diretor do Instituto Biodelta, autor do livro Musculação em Todas as Idades (Ed. Manole) e coordenador do site acadêmico www.treinamentoresistido.com.br.

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