31 Treinamento resistido na reabilitação

Revisão de literatura sobre as aplicações terapêuticas dos exercícios resistidos: recomendação de métodos e equipamentos utilizados em treinamento de pessoas saudáveis.

Jakob Kristensen, Andy Franklyn-Miller; 2011 Br J Sports Med 2012;46:719–726. doi:10.1136/bjsports79376 719

Comentários: José Maria Santarem

Os autores iniciam este trabalho comentando que as adaptações induzidas pelo treinamento resistido (TR) em populações saudáveis estão bem estabelecidas na literatura científica e isso tem levado á sua utilização em pessoas com doenças, lesões e debilidades.

A finalidade desta revisão foi verificar se os trabalhos publicados sobre esse procedimento comprovaram a sua conveniência.

Não apenas trabalhos experimentais controlados e randomizados (42) foram considerados, mas também trabalhos observacionais (9). Um cuidado importante utilizado foi a exclusão de trabalhos que adotaram a terminologia “treinamento resistido”, mas que utilizaram exercícios apenas com o peso corporal.

As condições de base estudadas nos trabalhos considerados foram dor lombar por discopatia, tendinopatias, artrose de joelho e pós-operatório de lesão o ligamento cruzado anterior (LCA) e de artroplastia total de quadril (ATQ). O TR foi estudado nos diversos trabalhos em comparação com técnicas habituais de exercícios terapêuticos em fisioterapia e exercícios aeróbicos.

LOMBALGIA DISCAL
Uma consideração inicial foi que a fraqueza dos extensores da coluna foi apontada como um fator importante no aparecimento de dor lombar de natureza discal e que tanto pessoas sedentárias como esportistas podem apresentar essa condição dolorosa.

Os resultados dos trabalhos considerados mostraram aumento da força dos extensores da coluna lombar e diminuição importante de dores, em graus superiores aos produzidos pelos métodos mais habituais de exercícios terapêuticos.

A maioria dos trabalhos sugere que a utilização de mais do que uma série pesada por grupo muscular é superior à apenas uma série, tal como as revisões sugerem que ocorra com a população saudável.

Com relação à intensidade, o conjunto dos resultados sugere que cargas acima de 70% da carga máxima sejam mais eficientes para o fortalecimento muscular, redução de dores e melhora na qualidade de vida.

TENDINOPATIAS CRÔNICAS
Os autores comentam a alta ocorrência de tendinopatias dolorosas em joelhos e tornozelos de corredores e em atividades com grande utilização de saltos.

Os resultados dos trabalhos demonstram grande eficiência do TR em produzir alivio imediato e duradouro das dores em tendinopatia do tendão de Aquiles, comparativamente a outras intervenções, principalmente quando as contrações excêntricas são enfatizadas.

As contrações excêntricas constituem a mais eficiente forma de alongamento do tecido conjuntivo dos músculos, contribuindo para o aumento da elasticidade muscular que acompanha a hipertrofia.

Kongsgaard e colaboradores demonstraram em 2.010 que o TR tradicional de alta intensidade com contrações concêntricas e excêntricas mais lentas promove a diminuição do edema nas tendinites patelares, aumento de vascularização e aumento do turn-over do colágeno, com hipertrofia do tendão e diminuição rápida e duradoura das dores.

Esses efeitos são superiores aos obtidos com contrações excêntricas sem concêntricas e aos produzidos por TR de baixa intensidade.

ARTROSE DE JOELHO
A dor e a diminuição de função que ocorrem na artrose de joelhos estão diretamente correlacionadas com a diminuição de força do quadríceps.

Os trabalhos considerados mostraram que o TR tradicional é eficiente para o controle sintomático e para a melhora funcional, mesmo em artroses avançadas.

Embora considerados menos eficientes para objetivos gerais de treinamento, os exercícios isométricos, os isocinéticos e as contrações concêntricas isoladas também produziram bons resultados na dor e na função em pessoas com artrose de joelhos.

Os melhores resultados do TR em artrose de joelhos foram obtidos com treinamento isotônico convencional, com contrações concêntricas e excêntricas, e com intensidades acima de 70% da carga máxima.

Embora alguns autores tenham utilizado intensidades em torno de 60% da carga máxima por receio de prejuízos à cartilagem dos joelhos, evidências sugerem que os efeitos sejam benéficos e não prejudiciais.

RECONSTRUÇÃO DE LCA
Os autores esclarecem que a perda de força do quadríceps e a diminuição da mobilidade do joelho são comuns no pós-operatório se não houver adequada intervenção com exercícios.

No pós-operatório recente o TR tem sido utilizado com intensidades baixas e apresentado bons resultados, mas não superiores aos obtidos com exercícios habitualmente utilizados como exercícios proprioceptivos, treinamento neuromuscular, exercícios em degraus ou com bicicleta ergométrica.

No entanto, a frequente ocorrência de hipotrofia e dinapenia (perda de força) vários meses após a intervenção cirúrgica sugere que o TR de alta intensidade deva ser utilizado após as fases iniciais da reabilitação.

ARTROPLASTIA TOTAL DE QUADRIL
Com a utilização dos exercícios tradicionais da reabilitação, muitos pacientes não conseguem recuperar a força e a mobilidade em níveis adequados após a operação cirúrgica, o que levou à hipótese de que o TR poderia ser utilizado com melhores resultados.

Os trabalhos considerados mostraram que o TR iniciado no pós-operatório imediato, com baixas intensidades, diminui o tempo de internação quando comparado com métodos tradicionais de reabilitação.

Por ocasião da alta hospitalar o TR tem sido utilizado com intensidades em torno de 65% da carga máxima, evoluindo rapidamente para cerca de 80% de 1 RM (carga máxima para uma repetição).

Em relação aos exercícios convencionais de reabilitação e à estimulação elétrica, o TR mostrou melhores resultados em força e hipertrofia musculares, mobilidade articular (flexibilidade) e potência muscular.

Os resultados também foram melhores em testes funcionais como subir escadas e velocidade da marcha. O aumento da potência muscular induzida pelo TR tradicional tem grande importância nos pacientes mais idosos por diminuir o risco de quedas.

CONCLUSÕES
O TR tem sido utilizado com vantagens sobre outras formas de exercícios em várias condições patológicas do aparelho locomotor, principalmente nas caracterizadas por perda de força e de função, mesmo em pessoas idosas.

A proposta de utilizar intensidades baixas devido ao receio de lesões não tem sido comprovada. Intensidades em torno de 70% de carga máxima parecem produzir os melhores resultados com segurança em todas as faixas etárias e são mais eficientes para reduzir a dor.

Os exercícios utilizados na maioria dos trabalhos selecionados são exercícios tradicionais do TR como leg press, extensão de joelhos e flexão de joelhos, com amplitudes geralmente parciais, adaptadas para a segurança e o conforto.

Metodologia, tabelas, gráficos e bibliografia encontram-se no artigo original.

José Maria Santarem
José Maria Santaremhttps://treinamentoresistido.com.br
José Maria Santarem é doutor em medicina pela Universidade de São Paulo, fisiatra e reumatologista pela Associação Médica Brasileira, consultor científico da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte, coordenador de pós-graduação na Escola de Educação Permanente do HC-FMUSP, diretor do Instituto Biodelta, autor do livro Musculação em Todas as Idades (Ed. Manole) e coordenador do site acadêmico www.treinamentoresistido.com.br.

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