05 Treinamento resistido para crianças e adolescentes

Posicionamento da Sociedade Norte-americana de Pediatria sobre o treinamento com pesos em crianças e adolescentes – Alguns cuidados e muitos benefícios

Council on Sports Medicine and Fitness; Pediatrics; 2008; Vol. 121; 835-840.

Comentários: José Maria Santarem

Este texto é uma revisão de posicionamento do American Academy of Pediatrics sobre o treinamento de força para crianças e adolescentes. O treinamento de força (também conhecido por treinamento resistido – TR) é um componente habitual dos programas de condicionamento físico em todas as idades.

BENEFÍCIOS DO TREINAMENTO DE FORÇA
O TR consegue estimular eficientemente a força muscular e o desempenho esportivo, além de prevenir e reabilitar lesões. De maneira similar a outras formas de atividades físicas, o TR tem demonstrado um efeito benéfico em vários marcadores de saúde tais como a aptidão cardiovascular, a composição corporal, a densidade mineral óssea, o perfil dos lipídios sanguíneos e a saúde mental.

Em crianças com sobrepeso o TR consegue aumentar a taxa metabólica sem alto impacto. O TR na adolescência tem um efeito positivo na densidade óssea. Em crianças com paralisia cerebral, o TR melhora a funcionalidade global, a força muscular e o bem-estar.

O TR aumenta a força muscular em pré-adolescentes e adolescentes, mesmo com freqüência de uma vez por semana, embora os programas de treinamento realizados duas vezes por semana possam ser mais benéficos.

O TR também é adequado para as crianças e auxilia na aquisição de habilidades específicas para o esporte e para a melhora do controle postural. Os ganhos na força muscular, no volume muscular e na potência desaparecem em aproximadamente 6 semanas após a interrupção do treinamento resistido.

Em pré-adolescentes, o TR aumenta a força muscular sem o aumento concomitante na hipertrofia do músculo. A força aumenta principalmente pelo aprimoramento da coordenação neuro-muscular.

Este mecanismo esclarece o aumento da força muscular em populações com baixas concentrações de hormônios andrógenos, incluindo indivíduos do sexo feminino e meninos pré-adolescentes. A hipertrofia muscular ocorre de forma mais pronunciada em meninos e meninas na puberdade.

Exercícios preventivos (pré-reabilitação) são os que fortalecem áreas geralmente vulneráveis a lesões por excesso de uso como os ombros e a coluna vertebral. Alguma dúvida existe quanto à possibilidade de o TR conseguir reduzir a incidência de lesões graves relacionadas aos esportes em adolescentes.

RISCOS DO TREINAMENTO DE FORÇA
Muitas das questões sobre lesões associadas com o treinamento de força originam– se dos dados do US Consumer Product Safety Commission’s National Electronic Injury Surveillance System. A maioria das lesões ocorre com equipamentos de musculação domésticos, praticados em ambientes não supervisionados.

As distensões musculares são responsáveis por 40%-70% de todas as lesões ocasionadas pelo TR. Os índices de lesões em treinamento supervisionado são menores do que aqueles que ocorrem em outros esportes ou em jogos recreacionais.

O TR não tem efeitos adversos para o crescimento estatural, para as cartilagens de crescimento, ou para o sistema cardiovascular. Jovens atletas com histórico de hipertensão arterial, assim como com adultos, devem estar adequadamente controlados com medicação durante o TR.

Os adolescentes em quimioterapia com antraciclinas podem apresentar um risco cardiovascular aumentado devido aos seus efeitos cardiotóxicos, e o TR deve ser cuidadoso.

Os adolescentes que apresentam cardiomiopatias graves (particularmente a cardiomiopatia hipertrófica), devem ser orientados a não praticarem o TR. Indivíduos com hipertensão pulmonar moderada a severa também devem evitar o TR intenso.

Pessoas jovens com síndrome de Marfan não devem praticar TR. Jovens com epilepsia precisam de supervisão especial no TR. Crianças com sobrepeso são freqüentemente descondicionadas e com baixos níveis de força, necessitando de supervisão rigorosa no TR.

DIRETRIZES PARA O TREINAMENTO DE FORÇA
Uma avaliação médica da criança antes de iniciar um programa de TR é recomendada. Os jovens que demonstram interesse em aumentar a massa muscular devem ser desencorajados de utilizar esteróides anabólicos em função dos riscos para a saúde.

A American Academy of Pediatrics (AAP) condena energicamente a utilização de substâncias proibidas que aumentem o desempenho atlético.

O TR não deve ser iniciado antes dos 7-8 anos de idade devido à imaturidade dos sistemas relacionados com o equilíbrio e a manutenção da postura. A execução dos movimentos não deve ocorrer de forma rápida e explosiva para não produzirem sobrecargas inadequadas nos tecidos corporais.

A maioria das máquinas de TR é destinada para adultos e possuem graduações nas cargas inadequadas para as crianças mais jovens. Os pesos livres permitem um aumento pequeno e gradual das cargas e são mais próximos das situações reais da prática esportiva, mas são mais difíceis de serem realizados.

O levantamento de pesos como uma modalidade esportiva tem tido a participação de crianças sem apresentar um índice elevado de lesões. A supervisão minuciosa e a aderência à técnica correta de execução dos movimentos são importantes para a segurança. No entanto, crianças imaturas esqueleticamente devem evitar a competição em levantamento de peso e fisiculturismo, e também não devem realizar testes de carga máxima.

Algumas diretrizes da AAP, da American Orthopaedic Society for Sports Medicine, e da National Strength and Conditioning Associations são:

1) crianças devem iniciar o TR com exercícios de baixa resistência (carga), até que a aquisição da técnica seja perfeita. Quando conseguirem realizar um número de repetições entre 8 a 15, um aumento de 10% na carga é permitido.

2) os exercícios devem incluir todos os grupos musculares, e devem ser praticados com amplitude completa de movimento.

3) as sessões de treinamento devem ter a duração entre 20 e 30 minutos, por 2 a 3 vezes por semana. O TR com mais do que 4
sessões por semana não parece ser mais eficiente e pode levar ao excesso de treinamento.

4) uma supervisão adequada é definida como a relação professor/aluno de 1 para 10, ou seja, um professor para cada 10 alunos.

5) um aquecimento adequado de 10 a 15 minutos, bem como o desaquecimento ao término da sessão de treinamento por meio de alongamentos apropriados, são recomendados.

6) para o objetivo de obter benefícios à saúde, então o treinamento de força deve ser combinado com um programa de treinamento aeróbico.

Metodologia, tabelas, gráficos e bibliografia encontram-se no artigo original.

José Maria Santarem
José Maria Santaremhttps://treinamentoresistido.com.br
José Maria Santarem é doutor em medicina pela Universidade de São Paulo, fisiatra e reumatologista pela Associação Médica Brasileira, consultor científico da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte, coordenador de pós-graduação na Escola de Educação Permanente do HC-FMUSP, diretor do Instituto Biodelta, autor do livro Musculação em Todas as Idades (Ed. Manole) e coordenador do site acadêmico www.treinamentoresistido.com.br.

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