O treinamento resistido melhora a fadiga e a qualidade de vida no câncer de mama.
K. Steindorf, M. E. Schmidt, O. Klassen, C. M. Ulrich, J. Oelmann, N. Habermann, P. Beckhove, R. Owen, J. Debus, J. Wiskemann, K. Potthoff, 2014 Annals of Oncology Advance Access published August 5, 2014
Comentários: José Maria Santarem
Inicialmente os autores esclarecem que a fadiga é o mais frequente efeito colateral da radioterapia em pessoas com câncer de mama. Também é esclarecido que embora os exercícios em geral sejam eficientes para tratar a fadiga, no câncer de mama esse efeito tem sido pouco estudado.
Os trabalhos existentes utilizaram exercícios aeróbicos ou uma associação de aeróbicos com resistidos, deixando em aberto os efeitos do treinamento resistido como única intervenção.
Outra questão em aberto nos trabalhos anteriores é a possibilidade de que os efeitos positivos demonstrados sobre a fadiga e a qualidade de vida tenham sido influenciados pela interação social entre os componentes dos grupos e treinadores.
Assim sendo, o presente trabalho teve a proposta de estudar o treinamento resistido como única intervenção no grupo experimental e o grupo controle, que não fez exercícios, foi submetido a sessões de relaxamento com a mesma frequência, duração e oportunidades de interação interpessoal em relação ao grupo exercitado.
As mulheres participantes do estudo foram em número de 160, com idades entre 45 e 65 anos, pós-cirurgia de mama e no mesmo estágio de clinico. Os critérios de exclusão foram doenças infecciosas agudas, doenças cardíacas e pulmonares descompensadas, outras formas de câncer concomitantes e participação em outros programas de exercícios.
As participantes foram distribuídas aleatoriamente entre os grupos experimental e controle. As sessões de exercício ou de relaxamento tiveram a duração de 60 minutos, iniciaram simultaneamente com a radioterapia e ocorreram duas vezes por semana durante três meses.
Os exercícios foram realizados em oito aparelhos de musculação, um para cada grupo muscular, em três séries de 8 a 12 repetições cada um, com 60 a 80% da carga máxima. As avaliações ocorreram no início do treinamento, na metade e no fim.
Questionários de autoavaliação foram usados para a fadiga, qualidade de vida e depressão. O questionário de fadiga utilizado considera separadamente os domínios físico, afetivo e cognitivo. A força foi avaliada com testes específicos para os principais grupos musculares e o VO2 de pico com bicicleta ergométrica. Linfedema, dores, náuseas, dispneia e taquicardia também foram avaliados.
A fadiga diminuiu significativamente ao final do experimento apenas no grupo experimental e somente no domínio físico. A qualidade de vida também melhorou apenas no grupo experimental, de forma significante.
O grau de depressão não foi afetado pela intervenção, permanecendo inalterado em ambos os grupos. A força aumentou significantemente apenas no grupo experimental e a dor diminuiu da mesma forma somente nesse grupo.
Lesões não ocorreram durante o experimento e a ocorrência de linfedema foi igual no grupo experimental e no grupo controle. A aderência ao programa de exercícios foi considerada muito boa.
Os autores concluem que o treinamento resistido como única intervenção foi seguro e eficiente para melhorar a fadiga, melhorar a qualidade de vida, melhorar a função e diminuir dores em mulheres com câncer de mama submetidas a radioterapia pós-cirúrgica.
Outra conclusão é que esses efeitos ocorreram sem a influência de fatores psicosociais relacionados à convivência em grupos com atenção profissional.
Essas conclusões são de grande relevância visto que muitos médicos e mesmo pacientes têm a noção errada de que o treinamento resistido com cargas maiores pode ser inadequado para pessoas que apresentaram doenças graves, em situação pós-cirúrgica e submetidos a intervenções debilitantes como a radioterapia.
Metodologia, tabelas, gráficos e bibliografia encontram-se no artigo original.