38 Treinamento resistido e doença de Parkinson

Revisão sobre os efeitos benéficos do treinamento resistido na Doença de Parkinson e considerações sobre os possíveis mecanismos fisiológicos envolvidos.

Fabian J. David, Miriam R. Rafferty, Julie A. Robichaud, Janey Prodoehl, Wendy M. Kohrt, David E. Vaillancourt, and Daniel M. Corcos, 2011. Hindawi Publishing Corporation Parkinson’s Disease Volume 2012, Article ID 124527, doi:10.1155/2012/124527 National Institutes of Health (5R01NS028127-16, 5T32MH067631-07)

Comentários: José Maria Santarem

Os autores iniciam o trabalho comentando que a Doença de Parkinson (DP) atualmente depende do tratamento farmacológico com levodopa, que infelizmente costuma produzir alterações indesejáveis da função motora.

A neurocirurgia oferece uma alternativa de tratamento, mas também tem efeitos colaterais e é reservada para casos que não estão respondendo bem aos medicamentos ou os casos com importantes alterações motoras farmacologicamente induzidas.

Nesse contexto, qualquer tratamento alternativo ou adjunto para a DP deve ser estudado e esse é o caso dos exercícios físicos, particularmente do treinamento resistido (TR) que tem se mostrado eficiente da DP.

Esta modalidade de exercício produz melhora na fraqueza muscular e na bradicinesia, com impacto positivo na funcionalidade, na redução de quedas e na qualidade de vida, diminuindo a pontuação nas escalas de gravidade da doença.

A bradicinesia é definida como lentidão na realização dos movimentos e na DP tem origem em alterações patológicas do sistema nervoso central. A fraqueza muscular na DP também tem origem central, com alterações da ativação cortical dos músculos, e afeta todo o organismo com ênfase nos músculos extensores.

Consequentemente à diminuição de força e à lentidão de movimentos, ocorrem na DP importantes diminuições da potência e do torque. A diminuição de massa muscular observada em pessoas com DP parece ser consequência da diminuição da atividade física geral e não devida a mecanismos centrais, mas certamente contribui para agravar a situação de fraqueza muscular e de movimentos lentos.

O aumento de força tradicionalmente observado no TR tem nos seus mecanismos fisiológicos determinantes aspectos ligados ao sistema nervoso central. Uma das evidências desses aspectos é que a força aumenta antes da hipertrofia (melhor coordenação).

Outra é o aumento de força contralateral (até 7%) sem aumento de volume muscular que ocorre quando apenas um membro é exercitado. Também sugerem mecanismos centrais do aumento de força a especificidade (força aumentada em exercícios isotônicos não tem aumento proporcional em movimentos isométricos) e a generalização (força aumentada com TR melhora a coordenação para outras atividades).

Outra evidência para mecanismos centrais atuando no aumento de força é que a pessoa recruta menos fibras para movimentar uma mesma carga quando aumenta a força. Estudos com estimulação magnética transcraniana, ressonância magnética funcional, eletroencefalografia e eletromiografia também sugerem que em função do TR o córtex motor aumente a sua plasticidade e que melhore a eficiência dos circuitos integrados na medula espinal.

Assim sendo, por diversos mecanismos, o TR parece ser a modalidade de exercício preferencial na DP.

No entanto, para esclarecer melhor as potencialidades do TR na DP os autores recomendam que futuros trabalhos avaliem os efeitos do TR na ausência de medicação, por tempo maior do que os utilizados nos estudos atualmente disponíveis (vários meses ou anos), que sejam utilizadas as escalas de avaliação de sintomas motores padronizadas para a DP, que os efeitos positivos já demonstrados do TR sobre parâmetros cognitivos sejam avaliados na DP, que os ensaios clínicos sejam controlados, randomizados e cegos, e que os diversos parâmetros de prescrição do TR (exercícios, volume, intensidade, carga, frequência) sejam estudados em pareamento com as diversas formas de apresentação da DP (predominância de tremor ou de rigidez ou de discinesias).

Os autores concluem que além do TR melhorar a força, a resistência e o volume dos músculos, a velocidade da marcha, a capacidade para subir escadas, a estabilidade postural, aspectos da cognição e a percepção de melhor qualidade de vida, ainda existe a potencialidade de interferir favoravelmente na evolução da DP devido aos seus efeitos no sistema nervoso central.

Em outras revisões sobre DP (Resistance Training for the Prevention and Treatment of Chronic Disease, capitulo 8, páginas 117 a 130 – Ciccolo e Kraemer, CRC Press 2013) os autores recomendam que o TR seja utilizado com uma abordagem clássica de programa para força e hipertrofia: duas a três sessões semanais, exercícios básicos com pesos livres e máquinas, cargas elevadas (80 a 100 % de 1 RM), uma a três séries pesadas por exercício e intervalos de descanso entre um e três minutos.

Metodologia, tabelas, gráficos e bibliografia encontram-se no artigo original.

José Maria Santarem
José Maria Santaremhttps://treinamentoresistido.com.br
José Maria Santarem é doutor em medicina pela Universidade de São Paulo, fisiatra e reumatologista pela Associação Médica Brasileira, consultor científico da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte, coordenador de pós-graduação na Escola de Educação Permanente do HC-FMUSP, diretor do Instituto Biodelta, autor do livro Musculação em Todas as Idades (Ed. Manole) e coordenador do site acadêmico www.treinamentoresistido.com.br.

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