Revisão de literatura sobre os efeitos benéficos do treinamento com pesos pós-AVC.
Louise Ada, Simone Dorsch and Colleen G. Canning; 2006. Australian Journal of Physiotherapy 2006 Vol. 52
Comentários: José Maria Santarem
Os autores iniciam esta revisão de ensaios clínicos controlados e randomizados chamando a atenção para o fato de que os acidentes vasculares encefálicos (AVE) constituem a terceira causa de morte nos países ocidentais e a primeira causa de inaptidão.
Fraqueza e incoordenação são os fatores classicamente reconhecidos como os mais importantes para a disfunção pós-AVE. Atualmente a fraqueza tem sido identificada como o fator mais importante.
O objetivo desta revisão foi avaliar se o treinamento de força pós-AVE é eficiente e seguro. A eficiência foi avaliada no sentido de aumentar a força e a funcionalidade, que abrange atividades como levantar-se, caminhar, alcançar e segurar objetos. A segurança foi considerada no sentido de não agravar a espasticidade, visto que historicamente esse seria um inconveniente do treinamento de força.
Além do treinamento resistido (TR) tradicional, foram incluídos nesta revisão intervenções com estimulação elétrica, biofeedback, re-educação muscular e práticas de controle mental. Quando a pessoa não consegue mover um membro contra a gravidade, o TR tradicional não é possível.
Um esclarecimento é que a diminuição da força imediatamente após o AVE é devida à diminuição de impulsos descendentes no sistema nervoso central (SNC) e após seis meses, a principal causa de fraqueza é a hipotrofia muscular por desuso. Nesta revisão os pacientes com menos de seis meses pós-AVE foram chamados de agudos e os com mais de seis meses foram chamados de crônicos.
De 258 artigos encontrados sobre o tema, apenas 21 foram selecionados em função dos critérios de análise adotados nesta revisão. Cinco trabalhos avaliaram pacientes agudos muito fracos; seis trabalhos avaliaram pacientes agudos não tão fracos; dois trabalhos avaliaram pacientes crônicos muito fracos e oito avaliaram pacientes crônicos não tão fracos.
A idade dos participantes variou entre 50 e 70 anos, sendo 51% homens e 49% mulheres.
Apenas metade dos participantes dos 21 trabalhos forneceu dados que permitiram meta-análise. Mesmo assim a força foi avaliada em 476 pessoas, a espasticidade em 59 e a funcionalidade em 359.
Os pacientes muito fracos foram submetidos a estimulação elétrica, biofeedback ou técnicas de re-educação muscular. A duração da intervenção variou entre 4 e 8 semanas, entre 3 e 7 dias por semana e entre 40 e 150 minutos por sessão.
Dos pacientes não tão fracos seis foram submetidos às técnicas anteriormente citadas e oito foram submetidos ao TR tradicional. A duração da intervenção variou entre 2 e 12 semanas, entre 3 e 5 dias por semana e entre 30 e 90 minutos por sessão.
A força muscular foi avaliada com testes tradicionais, isotônicos, isométricos ou isocinéticos. A espasticidade foi avaliada usando escalas clássicas e a funcionalidade com testes tradicionais.
RESULTADOS
EFICIÊNCIA EM AUMENTAR A FORÇA
Todas as intervenções foram eficientes para aumentar a força nos pacientes que estavam nas fases iniciais pós-AVE. O aumento nas fases mais avançadas foi não-significante. Os autores comentam que isso provavelmente foi devido à que a intervenção reconhecida como a mais eficiente (TR) teve duração muito curta (média de 7 semanas) e a intensidade foi abaixo da recomendada pelos consensos atuais de treinamento.
EFICIÊNCIA EM PROMOVER FUNCIONALIDADE
A funcionalidade melhorou em função do treinamento de força, mas em pequeno grau. Uma possível explicação é que em 58% dos trabalhos apenas um ou dois grupos musculares foram exercitados, mas os testes de função utilizavam vários grupos musculares. Outra possível explicação é que a duração e a intensidade do TR não foi a mais adequada para resultados máximos.
SEGURANÇA PARA NÃO AUMENTAR A ESPASTICIDADE
Os resultados mostraram que o treinamento de força, incluindo o TR, não aumentou a espasticidade dos participantes. Embora o número de pacientes avaliados com respeito a espasticidade tenha sido menor do que o número avaliado em força e em funcionalidade, trabalhos não controlados não incluídos nesta revisão são unânimes em documentar que a espasticidade não piora pós-AVE, mesmo com o TR de alta intensidade.
CONCLUSÃO
Os autores concluem que o treinamento de força deve ser recomendado para os pacientes pós-AVE em função da sua eficiência e segurança. A perspectiva atual é que o treinamento resistido tradicional com intensidade e duração adequadas possa ser ainda mais efetivo.
Metodologia, tabelas, gráficos e bibliografia encontram-se no artigo original.